terça-feira, 27 de dezembro de 2011

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Presente do Papai Noel!

Fiz esse video para participar do concurso do Cifra Club.
Se eles escolherem meu video eu ganho um violão novo! e é um violão DAHORA!
Aproveitei a musica da Wall, pois nos últimos dias essa música não tem saido da minha cabeça!
É waiting for the sun to shine na hora que acordo, é esperando o sol brilhar quando estou almoçando,  Esperando el sol brillar quando tô cagando...(esperando mesmo)!
Essa música é muito bonita e está sendo a trilha sonora desse fim de ano bárbaro!


Torçam para eu ganhar esse concurso. Nunca participei de nada e nem rifa na minha vida ganhei! Mas dessa vez seria um bom presente do papai noel!

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Minhas impressões da Vila Mundo.


Essa Vila Mundo começou há muito tempo dentro de mim. Ela veio vindo mansamente, se transformando e se concretizando pouco a pouco a partir da minha vontade e da vontade de muitas pessoas.
A vontade de fazer vila paraíso é uma coisa muito presente e clara pra mim o tempo todo, mas dessa vez essa Vila Mundo tem um gosto especialmente único. Ela marca pra mim o momento em que passei a zelar como pai da vila. Mesmo que eu continue sendo eternamente irmão mais velho do Axell, do Wellington e da Isabella. Essa vila nós fizemos com os nossos próprios pés. Eu, Jota, Lê e Aninha andamos sob um solo seguro que a Inês e a Jane cuidaram, mesmo solo que foi cuidado por tantas e tantas pessoas ao longo da minha história.
E agora eu to feliz pra caralho!
A Wall fez o vídeo desses dias. Ela mandou muito bem. Ela esteve do nosso lado fazendo junto conosco todos os dias. Eu acho que suas fotos mostram isso.


Nessa Vila eu estive presente em cada momento, saboreei cada coisa que aconteceu, e me ajudou a entender melhor como é pra mim essa coisa de aproveitar o aqui e agora.
Pensamos a vila toda em cima do tema prático: experimento de tudo gostosamente.
Jogamos o jogo do bambu e pensamos em como nos posicionarmos no ponto zero.
Zap, zum e boing pensando nas dinâmicas de comunicação.
No jogo das três situações pensamos sobre fato e pensamento.
E fizemos kensan sobre que pessoa, que ser humano queremos de ser. E que mundo queremos construir.
Eu e a sociedade.
Em poucas palavras pra mim fica a imagem do cavaleiro na carroça.
Se você quer que a carroça ande onde chicoteamos? No cavalo ou na carroça?
Se divagarmos onde devemos chicotear, estamos fora da prática e ficamos parados.
Para mim essa coisa: “eu e sociedade” é como essa carroça.
Não há separação entre uma coisa e outra, nem há “dentro e fora”.
Hoje eu sinto que sou tanto o cavaleiro como o cavalo e a sociedade é a carroça. E somos uma coisa só onde quer que eu esteja e independente de como eu veja. Eu a puxo ao mesmo tempo em que ela me carrega.
Ao chicotear o cavalo estou chicoteando a mim mesmo, isso é tudo que posso realmente fazer na prática. A outra opção é ficar puto pela carroça não ser do jeito que eu queria que ela fosse e ficar chicoteando-a esperando que ela se mova.
Onde chicoteamos?
 Pensei sobre isso durante nossas reuniões com a galera e também na reunião com pais.
Pensando nesses dias sobre o tema de “experimentar de tudo gostosamente” foi também muito importante. Parece-me que manter essa atitude de experimentar durante o ato de fazer algo ajuda a encontrar o “gostosamente” que está lá. Isso é diferente de colocar deliberadamente alguma distração pra tornar a atividade mais prazerosa e menos chata. Ou de forçar encontrar alguma razão maior naquilo, espremendo ao máximo para tirar algum proveito.
É simplesmente apreciar cada momento como ele é.
Nesses cinco dias eu pude saborear calmamente cada acontecimento. Não foi difícil fazer isso, pois cuidar dessa vila não teve nenhum esforço, nenhuma obrigação. Apesar de estar agora completamente exausto e ainda assim querendo escrever essas impressões.
É fácil, pois me sinto em casa lá no salão, estou junto dos meus melhores amigos e fazendo umas das coisas que mais gosto de fazer na minha vida.
E eu faço com amor. Eu amo quando encontro a galera de manhã, eu amo subir andando até a avicultura ou a horta. Eu amo ensacar esterco e colher ovos, ou colher cenouras, amo sentar em roda e ouvir cada pessoa, pensar junto com elas. Amo como nesse processo eles me ajudam a me enxergar melhor. Amo, pois através desse processo fico mais pertinho de mim mesmo neste momento presente. Então posso apreciar cada momento como ele é. Posso apreciar a vida enquanto ela acontece e estar feliz pelo simples fato de estar aqui.
É engraçado como sempre acabo voltando para esse ponto.
Mas é que agora, lembrando as coisas que fizemos, eu sinto amor.
Todas as vilas foram incríveis pra mim, cada uma com suas particularidades e com diferentes pessoas. Mas olhando pra mim agora, percebi que nas últimas vilas eu acabava sempre chorando no ultimo dia, depois que a vila acabava. Quando nós “monitores” sentávamos pra falar como tinha sido etc...eu chorava pois falando como tinha sido me emocionava. Dessa vez eu chorei durante a Vila, em vários pequenos momentos. Por exemplo, no dia em que fomos colher cenouras e estávamos voltando da horta eu olhava a galera lá na frente do caminho andando de volta pro salão, ou enquanto a galera entrava na cozinha e eu ouvia o movimento deles, também quando eu ouvia cada um dizer o que pensa, ouvindo as risadas do Lê e do Jota na “bate-caverna” enquanto a Inês fazia massagem na minha cabeça, por causa de uma dor.
Não era nenhum choro flagrante, eram pequenas lágrimas que molhavam meus olhos no momento em que eu parava e pensava “isso que está acontecendo agora é bom demais”, “que bom estar aqui”, “que bom estar aqui com eles”.
É bom poder aproveitar com consciência esses momentos enquanto eles acontecem. Agora não fico lembrando tudo isso pensando: “ nossa!! Fizemos tantas coisas legais, eu devia ter aproveitado mais...”
Eu to bem tranqüilo pois aproveitei do jeito que consegui aproveitar.
Gostaria de morrer com esse sentimento em relação a minha vida.
Tudo justo.
Foi do caralho.
E essa turma é foda!
Amo eles demais.

Agora deixo uns lembretes pra mim mesmo para a próxima Vila.

Olhar pra mim primeiro.
Começar do ponto zero.
Fazer na prática todos os temas.
Ao conduzir uma reunião, não ficar cercando eles para que eles falem o que eu espero deles. Mas ter o tema claro e trazer a atenção para o tema quando o pensamento de alguém se desviar muito.
Lembrar que as minhas crenças, opiniões, etc...são particularidades minhas. Não tem nada a ver com o processo de cada um.
Contribuir para um ambiente de liberdade e de confiança, onde todos possam falar como quiserem, sem se preocupar com palavras, formas de expressar, ou julgamento.
Eu não julgo em primeiro lugar.
Procurar ouvir, só ouvir e ouvir devagar.
Zelar por mim também, pedir ajuda e confiar em todos os zeladores.
Fazer por livre e espontânea vontade, sem esperar por resultados, seja a curto ou a longo prazo.
Não me preocupar em deixar rastros. Citando o Jota:
‎"Pra tocar no coração das pessoas é só prestar atenção aonde está o seu. E o resto é só deixar pra depois."
Vivenciar e construir no presente da vila, o mundo que gostaria de viver cada dia da minha vida.
E por último não esquentar a cabeça com esses lembretes.
Foram esses pontos que surgiram para mim durante essa vila.
Até a próxima.


segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Meu sonho


Agora reúno toda minha sensatez para me colocar insensato.
E me muno de toda sabedoria para me soltar criança.
Para brincar por toda minha vida.
Ser fiel a mim mesmo.
Ser feliz agora mesmo.
Ser sincero.
Este é meu sonho.
Ele é puro e obsceno.
É uma bagunça e é claro.
É o que eu quero fazer com este tempo.
É o que quero fazer neste espaço.
Este sonho não é só pra mim, ele não é só meu.
Ele não tá lá!
Tá bem aqui!
Não estou escondendo nada.
Você consegue ver isso?
Estou andando seguro e às cegas.
Veja! Eu tô pelado como um peixe aberto em sua mesa.
Seremos capazes de ver através destes rótulos?
Vestido somente com meu próprio sonho me apresento ingênuo.
E nunca antes tão corajoso.
Onde está a realidade?
Onde está o medo?
Quem está dizendo onde o pé deve estar?
Quem é que sente o solo empurrar o seu peso de volta? Os músculos da panturrilha esquentarem? Esparramando os dedos e abrindo os metatarsos?
Nem meu melhor amigo.
Nem minha mãe.
Nem pai.
Nem santo.
Nem namorada.
Quem sente o chão
É o meu
Pé.

domingo, 20 de novembro de 2011

Ganância emocional.


Mesmo cercado de pessoas que me querem o bem, às vezes me sinto sozinho.
É como se eu tivesse uma ganância emocional, uma vontade de sempre querer um pouco mais de atenção.
Acho que se eu for bem sincero, essa coisa é a base de eu ter escolhido ser ator.
Tem dias que eu não sinto falta de atenção, que gosto de passar desapercebido e ficar mais sozinho.
Tem dias que depois de fazer alguma coisa, em seguida começo a esperar pelo “bom garoto” ou por um aplauso.
Tem dias que depois de fazer alguma coisa fico satisfeito pela simples realização daquilo. Se alguém vem agradecer eu acho muito estranho.
Na escola de kensan no Japão, teve um dia que falei alguma coisa (não lembro o que) durante a reunião e logo depois veio um puta silêncio, quando a próxima pessoa foi falar ela começou a falar uma outra coisa nada a ver com o que eu tinha colocado. Se o que eu tivesse dito fosse análogo a uma bola que eu tivesse jogado na roda, ela se transformou em balão e subiu pro céu. Foi como eu senti naquela hora. Forever alone!


Então eu falei como eu tinha me sentido.
A kanako, uma amiga que fiz no curso, disse que ela me achava engraçado. Ela me via nos intervalos fazendo graça, “batendo a cabeça nas portas baixas do Japão” e achava engraçado porque eu sou alto e desengonçado. Então ela me perguntou se eu faria a mesma coisa se não tivesse ninguém olhando, se eu era capaz de ser engraçado sozinho, fazendo graça só pra mim mesmo.
Talvez eu nunca saiba se ela tinha consciência do ponto delicado que ela estava tocando em mim. Confesso que ouvir aquilo não foi fácil. Me senti pelado porque ela conseguiu ver isso.
Hoje eu lembrei disso porque eu fiquei pensando no que eu quero fazer daqui pra frente.
(Com fim de ano chegando etc...)
E percebi que quando começo a pensar nas coisas que quero fazer acaba vindo junto vontades como; “serei reconhecido ao fazer tal coisa? Isso fará de mim uma pessoa mais querida aos olhos dos outros?”
Então me pergunto: O que eu estou querendo de verdade? É admiração?
Acontece também que mesmo quando não estou preocupado com admiração nenhuma, penso se minha escolha fará as pessoas felizes.
Me pergunto: Porque quero ver as pessoas felizes?
Então começo a perceber que o foco não está em mim, está nas pessoas fora de mim.
Porque será? De onde vem isso?
Eu não acho que isso seja só meu, eu vejo muitas pessoas preocupadas com isso também. (Pelo menos é como me parece).
E eu não estou dizendo que isso seja uma coisa ruim, talvez a busca por querer se sentir reconhecido, admirado, querido, amado, ver as pessoas felizes tenha sido o gás para impulsionar muita gente a ser o que são e de ter realizado as coisas que realizaram. Talvez grandes atores só puderam ser grandes atores por conta dessa ambição. Uma vez eu vi em uma entrevista que Gene Wilder se tornou comediante, pois quando criança gostava de fazer rir sua mãe deprimida.


Bom, não adianta muito eu ficar especulando como será pros outros. Então volto a pergunta pra mim. No fundo, no fundo o que eu quero de verdade?
E tudo o que eu puder imaginar para o futuro é uma projeção das coisas que sinto agora.
Eu gosto de quando as pessoas riem das minhas piadas, gosto de ver as pessoas felizes, gosto de poder ser eu mesmo no dia-a-dia, gosto de me sentir aceito por mim mesmo e gosto de me sentir livre. Pra mim a busca pra me sentir querido, admirado, reconhecido pelos outros dá muito trabalho. Dá muita dor de cabeça quando eu sinto que não estou sendo nenhuma dessas coisas. E todas essas coisas que eu estou sentindo estão dentro da minha forma de interpretar.
O que as pessoas vão pensar de mim?
Está dentro de mim.
O que elas estão na verdade pensando?
Eu não sei.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

teoria da vacuidade 1


Uma das concepções filosóficas mais importantes do budismo deriva daquilo que é conhecido como a teoria da vacuidade. Em seu coração está o profundo reconhecimento de que existe uma disparidade entre como as coisas realmente são, do modo como as percebemos, inclusive a nossa existência dentro dele. Na nossa experiência do dia-a-dia, tendemos a nos relacionar com o mundo e conosco mesmos como se essas entidades possuíssem uma realidade autocontida, definível, discreta (isto é, individualmente distinta, isolada) e duradoura. Por exemplo, se examinarmos nosso conceito de eu, descobriremos que tendemos a acreditar na presença de um núcleo essencial da nossa existência, que caracteriza nossa individualidade e identidade como um ego discreto (individualmente distinto), independente dos elementos físicos e mentais que formam a nossa existência. A filosofia da vacuidade revela que isto não apenas constitui um erro fundamental, mas é também a base para o apego, fixação e desenvolvimento dos nossos inúmeros preconceitos.
De acordo com a teoria da vacuidade, qualquer crença numa realidade objetiva, fundamentada na pressuposição de existência intrínseca independente, é indefensável. Todas as coisas e eventos sejam conceitos materiais, mentais, ou mesmo abstratos como o tempo, são destituídos de existência independente. Tal existência independente, intrínseca, implicaria que as coisas e os eventos são de alguma forma completos em si próprios e, portanto, estão inteiramente autocontidos.
Isto significaria que nada tem a capacidade de interagir com e exercer influencia sobre os outros fenômenos. Mas sabemos que existe causa e efeito – gire uma chave de partida, os plugues de faíca se inflamam, o motor liga e a gasolina e o óleo são queimados. Num universo de coisas autocontidas inerentemente existentes, estes eventos nunca ocorreriam. Eu não poderia escrever no papel e o leitor não seria capaz de ler as palavras nesta pagina. Portanto, já que interagimos e fazemos trocas recíprocas, devemos supor que não somos independentes, embora possamos sentir ou intuir que sim.

DALAI LAMA

domingo, 13 de novembro de 2011

O cérebro determina o que é real?


Estamos cercados de radiação eletromagnética que não vemos. O essencial é invisível aos olhos
Para que eu esteja escrevendo estas palavras, uma coreografia desconhecida organiza a ação coletiva de milhões de neurônios no meu cérebro: ideias emergem e são expressas em palavras, que datilografo no meu laptop graças à coordenação detalhada dos meus olhos e músculos. Algo está no comando, uma entidade que chamamos de "mente".
Segundo a neurociência moderna, nossa percepção do mundo é sintetizada em regiões diferentes do cérebro. O que chamamos corriqueiramente de "realidade" resulta da soma integrada de incontáveis estímulos coletados pelos cinco sentidos, captados no mundo exterior e transportados para nossas cabeças pelo sistema nervoso.
A cognição, a experiência concreta de existirmos aqui e agora, é uma fabricação de incontáveis reações químicas fluindo por bilhões de conexões sinápticas entre neurônios.
Eu sou e você é uma rede eletroquímica autossustentável, que se define através de sua atuação na malha de células biológicas que constituem o nosso corpo. Mas somos muito mais do que isso.
Somos todos diferentes, mesmo se feitos da mesma matéria-prima. A ciência moderna destituiu o velho dualismo cartesiano de matéria e alma em favor de um materialismo estrito. Hoje, afirmamos que o teatro do ser ocorre no cérebro e que o cérebro é uma rede de neurônios que se acendem e apagam como luzes numa árvore de Natal.
Ainda não temos ideia de como essa coreografia neuronal engendra a nossa sensação de existirmos como indivíduos. Vivemos nossas vidas convencidos de que a separação entre nós e o mundo à nossa volta é clara. Precisamos dela para construir uma visão objetiva da realidade que nos cerca.
No entanto, nossa percepção dessa realidade, na qual baseamos nossa sensação de existir como indivíduos, está longe de ser completa. Nossos sentidos capturam apenas uma pequena fração do que realmente ocorre à nossa volta. Trilhões de neutrinos vindos do coração do Sol atravessam nossos corpos a cada segundo.
Estamos cercados por radiação eletromagnética de todos os tipos-ondas de rádio, infravermelha, micro-ondas-sem nos dar conta disso. Sons escapam da nossa audição, grãos microscópicos de poeira e bactérias são invisíveis aos nossos olhos. Como disse a raposa ao Pequeno Príncipe: "O essencial é invisível aos olhos".
Nossos instrumentos em muito ampliam nossa visão, permitindo-nos "ver" o que escapa aos nossos sentidos. Mas a tecnologia tem limites, mesmo que esteja sempre avançando. Portanto, uma grande fração do que ocorre escapa e escapará à nossa detecção. O que sabemos sobre o mundo depende do que podemos medir e detectar.
Quem, então, pode determinar que sua sensação do real é a verdadeira? O indivíduo que percebe a realidade apenas com os sentidos? Ou o que amplifica sua visão com instrumentos diversos?
Obviamente, essas pessoas verão coisas diferentes. Se compararem o que chamam de realidade material, o conjunto das coisas que existem à sua volta, irão discordar completamente. Qual dos dois está certo? Eu proponho que nenhum está. Mas vamos ter de continuar essa conversa na semana que vem.

MARCELO GLEISER


segunda-feira, 7 de novembro de 2011


"Como é por dentro outra pessoa? Quem é que o saberá sonhar? A alma de outrem é outro universo, com quem não há comunicação possível, com quem não há verdadeiro entendimento. Nada sabemos da alma senão da nossa; as dos outros são olhares, são gestos, são palavras, com a suposição de qualquer semelhança no fundo."
(Fernando Pessoa)

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Tadaima.

Chegamos.
A primeira impressão é como se todo esse tempo viajando não fosse mais do que um fim de semana.
Voltei. Pronto. Cheguei.
Sofri uns pequenos choques culturais: agora entendo o que as pessoas falam na rua, o transito é mais caótico. Olho para minha cidade, pra minha rua, pra minha casa com olhos novos, mas eles continuam familiares.
Acordei no meio da noite e não reconheci meu quarto por alguns segundos...No escuro estranhei tudo. Procurei algo que me localiza-se. Demorou um tempo. Onde estou mesmo? Então vi o mural de fotos...Estou no meu quarto!
Encontrei meus pais e alguns amigos, parece que foi ontem que sai de casa pra ir pro aeroporto. Foi realmente muito rápido.
Mas quando uso minha memória e busco nas lembranças tudo que vivi nestes meses viajando, parece que foi toda uma vida.
No avião assisti o filme do Senna.


Uma parte especifica me pegou.
Uma entrevista em que ele falava que estava começando a pensar no Airton Senna pessoa, não somente no Senna piloto. Uma vez que ele achava que teria somente alguns anos correndo em comparação com os anos de vida pela frente. Ele disse que talvez estivesse na metade da vida, que ainda não se sentia realizado, que tinha muita coisa pela frente, muito que aprender, muito pra ser feito...
Se não me engano essa entrevista foi feita no ano que ele morreu.
Nessa viagem toda pensei muito na vida e na morte. Procurei também não ficar só pensando e olhar a vida enquanto ela acontece. Olhar mesmo.
No avião tive a impressão que eu podia morrer a qualquer momento. Então percebi como a vida é irritantemente efêmera. Se foi como uma vida esses últimos 5 meses, agora chegou ao fim.
Aqui no Brasil não consigo contar pra pessoas como foi no Japão.
O Japão está comigo e ao mesmo tempo ficou pra trás.
Nada de concreto eu consigo segurar nas minhas mãos e nenhum momento é possível ser vivido novamente.
Se minha vida estivesse acabando exatamente agora, nada do que vivi vai permanecer comigo. Mas tudo que vivi vai estar comigo na pessoa que sou neste exato momento.
E a pessoa que sou neste exato momento aceita morrer com felicidade?
Bom essa pessoa está feliz de estar vivo, do avião não ter caido e de estar em casa se sentindo bem vindo.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

ARIGATOU

ARIGATOU NIHON!!
Thanks everybody! we had a wonderfull time together!
love you all!
matta ne!

sábado, 22 de outubro de 2011

Bom regresso

Sempre antes de viajar, toda vez mesmo, penso na possibilidade de morrer.
Mas de boa, sem colocar peso mórbido. Vem-me o seguinte pensamento: e se o avião cair?
Acho que deve ser normal. Acredito que isso passa na cabeça de muitas pessoas. Não é a toa que existem muitos amuletos de bom regresso e tradições em cima disso.
Aqui no Japão mesmo ganhei um da Haruna, que ela comprou perto do templo dourado.
Ganhei também um origami do Tetsuya em forma de barco, dentro ele escreveu uma carta explicando a expressão japonesa GOKIGENNYO usada pelos marinheiros (ele já viajou o mundo trabalhando num navio) essa expressão, segundo ele, não quer dizer adeus. É mais o desejo de uma viagem segura ao seu destino. E de retorno. Ou somente um olá!
Quando estou iniciando uma viagem e esse pensamento de “e se o avião cair” vem, peço para que se tiver que acontecer que aconteça na volta pelo menos, depois da viagem! Mas agora que estou pra voltar peço pra que?
Peço para que os amuletos funcionem!
Acho engraçado esse pensamento sempre vir antes de viajar, já que a possibilidade de morrer sempre existe todos os dias.

Existem muitas formas idiotas de morrer.
E só dar uma olhada no “Prêmio Darwin”.
Do Wikipédia: Prêmios Darwin são honras atribuídas de uma forma irônica, cujo nome provém de Charles Darwin, o criador da teoria da evolução[1]. Estes prêmios são atribuídos de forma simbólica àqueles que cometeram erros altamente absurdos ou se descuidaram idioticamente, pondo fim à própria vida ou causando a sua esterilização[1]. Estes prêmios baseiam-se no pressuposto de que estes indivíduos, ao se autodestruírem, contribuem para a melhoria do pool genético humano ao eliminarem os seus "maus" genes[1].

“Tem gente que pensa que é uma boa idéia acender um isqueiro para iluminar um tanque de gasolina, ou existe aquele ladrão que rouba a fiação elétrica sem desligar a corrente ou ainda o terrorista distraído que abre a carta-bomba que o correio lhe devolveu, por ter selos a menos!



Sempre tive medo de morrer, pois amo viver, pois tenho medo de não existir mais, medo de perder a consciência de mim mesmo. De não ser mais eu.
Então minha forma de aceitar foi procurar alguma explicação para o desconhecido. Se eu pudesse saber o que vai acontecer depois então eu poderia aceitar racionalmente o fato de que vou morrer um dia. Como qualquer pessoa que gosta de manter o controle.
Fui então dar uma olhada num monte de coisas...
A merda é que mesmo fazendo sentido um monte de crenças, até hoje eu não sei se acredito nelas.
Pois toda crença precisa, ao meu modo de ver, passar por uma linha que divide o olhar objetivo para a imaginação.
Como o nome mesmo diz, é uma crença.
Não estou negando nenhuma crença para o desconhecido.
Mesmo que tenha gente dizendo que conhece muito bem o desconhecido. Essa pessoa conhece porque ela acredita em um sistema de crenças. Mas não somos todos assim?
Não quero entrar nas questões de ciência x religião, crentes x descrentes. Ao meu modo de entender acho que nós todos acreditamos em alguma coisa.  Eu acredito que estou aqui e agora, acredito no amor, acredito que sou filho da Marilza e do Miguel. Acredito também num futuro bom pra mim. Mas não tem como ter certeza, somente acredito nisso. Isso pode ser chamado de fé? De esperança?
Pode ser que para entender o desconhecido é preciso usar a imaginação, talvez seja um canal que une os dois lados.
Mas se for como distinguir o real do imaginário?
Pode ser que nem existam dois lados, que vida e morte faça parte de uma coisa só. Mas isso sou eu usando minha imaginação.
Na minha cabeça humana tão limitada e cheia de imaginação não consigo entender um monte de coisas simples do dia-a-dia. Muitas vezes não entendo o que se passa comigo mesmo. Imagina então querer entender o metafísico. Pensa!
Mas procuro me manter aberto, às vezes sou eu que não entendo por ser teimoso, como se a verdade estivesse gritando na minha frente e eu não dando ouvido. Pode ser que sou eu que não estou no mesmo "nível". Pode ser mesmo.
Mas ao mesmo tempo preciso ser muito sincero comigo mesmo. Não quero enviesar nenhuma crença por comodismo meu.
Na duvida fica a duvida mesmo: como será na verdade?
Quanto à morte, não sei.
Deixo isso em aberto, sem conclusão.
Vou morrer num acidente de avião voltando pro Brasil, atacado por babuínos raivosos ou velhinho na minha cama?
Vou pro céu depois, pra outro plano mais sutil, reencarnar num besouro ou simplesmente parar de existir?
Espero ter tempo em vida para entender melhor essas coisas.
Agora sei que não quero viver uma vida de acordo com o que vai me acontecer depois da dessa vida.
Quero viver essa vida de acordo com essa vida.
E essa vida tem me ensinado até agora que existem coisas que não dá pra querer mudar. Umas delas é que a vida antecede a morte. Isso é uma coisa que só é possível aceitar.
Assim como não é possível a gente mudar outra pessoa.
Não é possível a gente mudar o mundo.
A mudança do outro, a mudança do mundo começa com a mudança em mim.
Mas eu continuo querendo um mundo melhor.
Onde todos são mais felizes.
Eu faço parte desse mundo também.
Eu junto com todas as coisas que vivem, que morrem e que se transformam.
Isso é uma crença minha?



              
Essa noite sonhei que chegava em casa e todos meus amigos me abraçavam!




quarta-feira, 19 de outubro de 2011

O Amor.



Pra ser bem sincero não pensei muito sobre o que estou prestes a escrever, mas senti de súbito uma vontade enorme de falar sobre o amor.
Se olhar com um olhar rápido, meu primeiro amor deve ter sido a Marcela do pré. Do externato São João.
Não espera! lembrei de uma menina que nem sei o nome. Da quermesse, da igreja que tinha perto do prédio que eu morava na rua Martelinho... 
Nem sei quantos anos tinha...menos de cinco talvez.
Depois muitas menininhas abalaram meu coração.
Mas hoje não estou com vontade de falar desse amor entre homem e mulher.
Na verdade hoje não to vendo diferença entre as formas de amor.
Entre uma pessoa que você encontra rapidamente na sua vida, até as mais próximas, no fundo se trata de amor. Né?
Não quero entrar em comparações, não tem sentido comparar amor...
Mas não dá pra esquecer, é claro, que mesmo sem dar importância quando era criança, meus pais são as primeiras pessoas que amei de verdade. Minha mãe e meu pai.
Que cuidaram de mim, quando eu era um neném prematuro e sempre doente! Puta que o pariu eu dei trabalho demais pra esses dois! Catapora que tem cicatrizes até hoje no meu pulmão...alergia a leite do peito, a leite de vaca...só leite de soja...que muleque pra dar trabalho heim?
Nem vou listar agora tanto trabalho que dei pra esses dois. Né Marilza? Né Miguel?
O fato é que sem o cuidado e o amor deles eu não estaria bem aqui neste momento.
Mas tantas pessoas foram e continuam sendo tão fundamentais...de fato não é uma questão de comparar.

O fato é que não estamos sós. Mesmo quando nos sentimos sozinhos. Nós coexistimos com todas as coisas que existem e estamos ligados um com o outro pra estarmos existindo nesse exato momento de agora.
Mas não quero falar sobre existência, quero falar sobre amor.

Pois me lembrei de todas as pessoas que encontrei nessa viagem, e percebi como cada uma delas fez manifestar um amor verdadeiro em mim. Então me lembrei de uma porrada de pessoas que já encontrei nessa viagem da minha vida e percebi como a lembrança deles faz borbulhar dentro de mim um amor enorme.
Poder sentir isso, amor por cada pessoa que encontro, talvez seja o maior barato de viver.
É claro que eu amo meus pais, minha família, meus amigos. É claro que eu amo a Aninha, que tem o fator “cheirinho” inquestionavelmente a seu favor.
Mas não se trata desse amor só. Que as vezes se confundi dentro de mim com outros sentimentos como o ciúme, posse, medo...comparações.
Quando o amor começa a se transformar de um amor pequeno para um amor gigante ele deixa de ser limitado, e passa a ser infinito. Não é amor daquela pessoa que eu quero só pra mim, é amor por todas as condições que me trazem pra esse exato momento. Amor pelo passado, pela natureza, pelo universo, amor por cada momento, amor pela vida, amor pela morte, amor pelos altos e pelos baixos.
Amor de verdade não é forçado, é natural e já tá existindo mesmo antes da gente notá-lo.
Amor não é algo que a gente dá, pois ele nem pertence a nós em primeiro lugar.
Amor não é tudo o que a gente precisa, pois a gente já tem amor deste o momento em que nascemos.
Nós só pegamos essa mania de não reconhecer o amor em todas as coisas do dia-a-dia, em todas as pessoas que encontramos. Nós pegamos essa mania de algum lugar que não sei bem onde é! Mania de querer enquadrar o amor num esquema pra só então poder chamá-lo de amor. Ou escolhendo pra quem vamos “dar” nosso amor.
Amor de pais, amor de irmãos, amor de amigos, amor de família, amor de filhos, amor de avós, amor de netos, amor de amantes... Mas paixão não é amor, amor é algo mais... Quem disse? Quem está dizendo? Quem está comparando? Quem? Quem está colocando um amor acima do outro? O amor que a gente sente só a gente sabe, não é? Que amor a gente tá sentindo? Ele é pequeno ou ele é grande?
Beijo na bunda...amo vocês.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Life is short

Vi esse quadro na sala da casa do Yohey.


Esta é a sua vida.
Faça aquilo que você ama e faça com frequência.
Se você não gosta de alguma coisa, mude.
Se você não gosta do seu trabalho, se demita.
Se você não tem tempo suficiente, pare de assistir TV.
Se você está procurando pelo amor da sua vida, pare.
Eles estarão te esperando quando você começar a fazer as coisas que ama.
Pare para analisar, todas as emoções são maravilhosas.
Quando comer aproveite até a ultima mordida.
A vida é simples.
Abra sua mente, braços e coração para novas coisas e pessoas. Nós estamos unidos em nossas diferenças.
Pergunte a próxima pessoa que encontrar qual é a paixão dela, e divida seus sonhos e inspirações com ela.
Viaje muito. Se perder vai te ajudar encontrar a você mesmo.
Algumas oportunidades só vem uma vez, agarre-as.
A vida é sobre as pessoas que você encontra, e as coisas que você cria com elas.
Então vá e comece a criar.
Viva seu sonho e divida sua paixão.
A vida é curta.

Uma luta épica entre ninjas de alto nível


domingo, 16 de outubro de 2011

Um ouvido que cresce no peito


Um ouvido que cresce no peito.
Esse é um dos sentimentos mais fortes que fica pra mim nestes meses aqui no Japão.
Não sei falar japonês, não entendo as palavras em japonês.
Ao me relacionar com as pessoas é difícil se comunicar com as palavras.
O mesmo acontece com as vaquinhas, elas não falam o que estão sentindo e não entendem as palavras que eu falo. Eu me peguei muitas vezes sem saber em que língua falar com as vacas:
Oideeee!
Olha o leite!
Milk!
Pra pedir passagem: 
Excuse me!
Sumimassen! 
Dá licença!
Um dia elas não estavam vindo comer e eu pensei em imitar voz de mulher (pois quem cuida dos bezerros na maioria são mulheres)...então gritei num falsete desafinado..”OIDEEEEEEE”!
Mas na verdade que diferença faz?
Com palavras, sem palavras...
Sem as palavras não tive problemas de entender o que precisava ser feito, não tive problemas pra fazer junto, pra ouvir as pessoas e as vaquinhas.
Acredito que fiquei mais sensível pra olhar melhor, ler os detalhes e ter calma pra fazer esse processo de escutar. Sem palavras o foco não dá pra ficar só no que acontece entre eu e as pessoas, ou no que estou pensando enquanto escuto. Precisei ajustar o foco mais nas pessoas, ou nas vacas. E procurar olhar bem, ouvir bem.
É como um ouvido que cresce no peito ou uma orelha no coração. Como um abraço ou um aperto de mão. Entre "kokoros".

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Jota Liano


Tava olhando o face e vi a foto do Jota lá na preparação do tokkou...

 pancinha!!
Então fiquei me lembrando desses séculos de amizade.
Vixi meu irmão! Quanta coisa né?
Mas vou ser bem sintético, pois se puxo um fio, desenrola toneladas de coisas dessa amizade.
Esse vídeo diz tudo.



Acho que nossa amizade sempre teve essa dinâmica. Sem precisar falar muito, nem combinar, deste de criança um vai no vácuo do outro, não pra competir, mas porque assim os dois pegam mais velocidade.
Quem tá frente protege o outro do vento, e na hora que acelera, naturalmente passa a proteger, e assim vai sucessivamente! 
Sempre juntos!

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Contos das focinhadas



Outro dia estava eu lá com as vaquinhas. Fui espalhar as serragens para cobrir as partes molhadas e as merdas. É justamente fazendo isso que os bezerros ficam mais agitados, dão cabeçadas, correm, encaram e quando menos se espera vem um focinho curioso fuçando no toba alheio.

Já estava tentando entender porque eles ficam tão agitados nesta hora a algum tempo.
Mas sem sucesso algum continuei tomando focinhadas no toba.
Então alguns dias atrás comecei a prestar mais atenção em algumas coisas.
Eles são muito sensíveis ao meu estado, então olhei pra mim e perguntei de boa, como eu to hoje? Percebi que apesar de me sentir bem e achar que estava tudo certo, na hora que eu estava jogando as serragens eu ficava muito preocupado em olhar pro chão e ver onde precisava de serragem nova, como não queria tomar focinhada no rabo, tentava passar despercebido ignorando os bezerros. Isso nunca funcionou. Passei a olhar pra eles, prestar atenção neles. Percebi uma leve mudança só com isso, mas ainda sim eles continuavam agitados, e acabou virando uma brincadeira de “congela”, “to te olho em você”, “sai de trás”...
No outro dia continuei pensando, “porque será que eles ficam tão agitados?”
E mesmo achando que está tudo bem comigo (hoje to de boa), percebi que na verdade não gosto muito de fazer esse “trabalho”, tem que ficar entrando e saindo do quarto pra buscar serragem e é um saco! Percebi que enquanto estou fazendo isso já estou pensando em quantos quartos faltam pra fazer, e quando procuro não pensar nisso e focar só no quarto que estou fazendo e fazer sem pressa, percebo que pelo menos estou pensando na pazada seguinte.
Então peguei uma caixa maior, enchi de serragem e deixei perto da entrada do quarto.  Experimentei fazer desse jeito. Percebi que assim eu acalmava a ansiedade dentro de mim de ficar pensando em terminar logo, e então fui me acalmando de verdade, deixei minha respiração ficar mais lenta, meus movimentos lentos, e na minha intenção quis fazer bem feito pros bezerros, levando o tempo que fosse necessário.
Ai eu comecei a curtir estar lá fazendo isso. Prestei atenção neles, procurava encontrar o melhor caminho pra caminhar entre eles. Antes eu tinha esquematizado uma ordem; entro por aqui, jogo ali, ando por este sentido, jogo do fundo e vou vindo pra frente, etc...e se um bezerro estivesse no caminho, ia pedindo licença, ou dando um empurrão mesmo, pois eu queria ir por ali. Desta vez quis ficar mais aberto e prestar atenção no que acontece em cada momento e tentar descobrir um jeito de fazer na hora que a necessidade vem. Se um bezerro está no caminho, vou jogar serragem em outra parte, ou contorno ele, mas na hora que precisa jogar ali, ele pode sair também, não precisa ser nenhum escândalo.
Justamente neste dia eu tinha que fazer dois galpões a mais do que geralmente faço, bem nos galpões mais difíceis.  Conforme fui fazendo assim, prestando atenção neles, em mim e ir descobrindo momento a momento como fazer, percebi que nenhum bezerro tinha se aproximado muito de mim, eles viam que eu estava ali e me deixavam caminhar entre eles sem muita agitação, e a melhor parte é que não tinha tomando nenhuma focinhada no toba.
Ai eu comecei a me entusiasmar!  E pensar que ainda faltavam dois galpões pra fazer...”será que vou conseguir fazer tudo sem tomar focinhada?”
Mas logo que pensei isso percebi que seu fosse dar corda pra esse pensamento eu ia me desviar do que estava fazendo e tudo iria por água abaixo, quis me manter atento, concentrado...ai num quarto veio um bezerro que começou a querer chegar mais perto, começou me encarar, dar cabeçada...”não filho da puta, hoje tenho que ficar na focinhada zero” então outro movimento começou dentro de mim, comecei a ficar com raiva do abestado.
Então pensei “espera um pouco Miguel, qual o sentido disso tudo?”...”você tá fazendo tudo isso pra se sentir controlando?” porra mano é só uma focinhada no toba! É chato, mas não é o fim do mundo, é natural o bezerro querer dar cabeçada...percebi que na verdade eu comecei a pensar que queria encontrar a forma de entrar no quarto dos bezerros sem agitá-los, queria ser especial o suficiente pra conseguir fazer isso, e depois contar pra alguém..ou colocar no blog. Então lá estava eu começando a fixar uma ideia novamente, começando a esquematizar novamente.
Então continuei prestando atenção nas coisas, mas desencanei de chegar ao resultado “toba zero”. Se quiser dar cabeçada fazer o que? Tudo bem ué.
E fui fazendo assim...
Nos últimos quartos esse pensamento voltou, pois sem me preocupar estava de fato conseguindo me manter na “focinhada zero”, e estava muito gostoso, pois eles ficavam, na maioria das vezes, deitadinhos e não ligava muito pra mim. E eu estava com sentimento bem calmo e curtindo cada quarto, cada relaçãozinha que se estabelecia com cada vaquinha...não queria perder isso...ai lembrei dessa coisa de comemorar nossos feitos.
Isso acontece comigo quando, por exemplo, estou aprendendo a tocar uma musica. Eu Ralo, ralo, ralo pra entender as notas e tal...quando finalmente consigo tocar, fico tão feliz que minha atenção se desvia e na vez seguinte não consigo tocar direito.
No teatro e nos jogos de coordenação em grupo, isso também é bem freqüente, e acontece com todo mundo. Exatamente na hora que a gente percebe que está conseguindo manter o jogo coordenado é justamente a hora que exige mais atenção, pois o entusiasmo é sempre tão forte, natural e gostoso que na hora que a gente dá bola pra ele um segundinho a mais...erra o tempo..a bolinha cai, bate o bastão no pé..cai na risada!
Igual esse goleiro que comemora antes da hora.




A mente se dá por satisfeita, vai pra outro lugar que não é o momento presente.
Sei lá!
Então veio um entendimento bem interno do que é o equilíbrio.
Não foi intelectualmente, não foi de estudar e tal...
Foi quase sem querer, de observar a vida mesmo.
O equilíbrio em todos os sentidos.
Pra não cair, não desviar, não deixar de olhar, pra não ficar muito triste.
Que equilíbrio é esse? Equilíbrio de todo dia.

Epílogo

Mas tudo isso é como eu vejo e construo o sentido pra mim mesmo.
É como eu investigo a mim mesmo.
Na verdade como foi?
Agora na hora de escrever tudo fica mais distante de como foi a experiência. É meu pensamento analisando e construindo uma dramaturgia.

A Momoko me disse uma imagem bonita e fiquei pensando nela:
De que nós humanos, assim como as vaquinhas e tudo mais, somos como galhos de uma mesma árvore balançando no vento.

Então quando um bezerro vem e me dá cabeçada é como um galho dessa árvore que se moveu com o vento. 
É da natureza dele fazer isso. 
A maneira como a gente sente isso, interpreta etc...é o pensamento humano. Que também faz parte da natureza de ser humano. 
Mas é só o pensamento.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Pintura musical



                               Muito bonito mesmo, vejam até o final!

Undoukai

Undoukai, algo do tipo "encontro para movimentar o corpo". Todo outono em todas as escolas do Japão as pessoas se juntam para brincarem juntos e é claro movimentar o corpo. Hoje rolou undoukai aqui em Toyosato. 

 Foi muito divertido!


 As crianças cheerleaders!! fofuxas!


 A Na-chan manhosa....


Um dos momentos mais legais foi a corrida dos idosos para pegar pão sem usar as mãos.






 E também as mães com seus pequenos!




 E as crianças mais velhas também!






E assim foi a nossa manhã hoje, movimentando o corpo todos juntos! crianças, jovens, adultos e velhos!
Eu participei de todas as brincadeiras e "corri como um demônio"!
Depois durante o pic-nic, Fridolph veio e me disse isso...You run like a devil!



Foi muito divertido!
A Madoca está aqui com a gente hoje! toda madame e com barrigão!


Um monte de mulher e só eu de macho aqui! só eu não o Dan também! Eu, o Dan e a mulherada.


Madoka, Midori, Mira, Inês, Haruna e Aninha! curtindo o barrigão, a barriguinha, o neném e a coisinha xuxúca da Na-chan!

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

O sentido faz falta?




A gente procura um sentido para a vida somente quando o cotidiano perde sua graça e seu encanto


É uma queixa frequente: o mundo e a vida fazem pouco sentido -muito menos sentido do que antigamente, completam os saudosistas. Nas famílias, às vezes, essa queixa produz uma espécie de pingue-pongue. Os pais acham que os filhos adolescentes vivem por inércia, sem rumo e projeto: "Eles não estão a fim de nada que preste, não têm uma causa, uma visão de futuro".
Os filhos, confrontados com essa preocupação dos pais, declaram que, se precisassem mesmo de um sentido para viver, certamente não é com os pais que eles o aprenderiam: "Mas qual sentido gostariam que eu escolhesse para minha vida, se a vida deles não tem nenhum?". Nesse diálogo, o sentido parece ser sempre o que falta na vida dos outros que criticamos.
Também existem indivíduos (adolescentes e adultos) que se queixam da falta de sentido em sua própria vida: "Viver para quê? Todo o mundo vai morrer de qualquer jeito; que sentido tem?". 
Geralmente, ao procurar responder a essas constatações desconsoladas, amigos, parentes e terapeutas agem como os pais que mencionei antes: querem injetar uma causa, uma visão de futuro na vida de quem lhes parece ter perdido o rumo "necessário" para viver.
Agora, eu não estou convencido de que, para viver, seja necessário que a vida tenha um sentido. Quando alguém se queixa de que sua vida é sem sentido, não tento interessá-lo em grandes razões para viver. Prefiro perguntar (para ele e para mim mesmo) de onde surge tamanha necessidade de um sentido. É curioso que, para alguns, a existência precise de uma justificação, de uma razão, de uma causa, de uma visão de futuro.
Em regra, essa necessidade de justificar a vida se impõe quando a própria vida não se basta mais. Ou seja, é quando os gestos cotidianos perdem sua graça que surge a obrigação de fundamentar a vida por outra coisa do que ela mesma.
Nota clínica: a depressão não é o mal de quem teria perdido (ou nunca achado) uma grande razão para viver. Depressão é ter perdido (ou nunca encontrado) o encanto do cotidiano. Por consequência, tentar "curar" a depressão de um adolescente propondo-lhe militância política ou fé religiosa é nocivo: se a gente conseguir capturá-lo num grande projeto, esse mesmo projeto o afastará ainda mais da trivialidade do dia a dia, cujo encanto ele perdeu.
Resumindo, quando alguém se queixa de que a vida não tem sentido, o problema não é ajudá-lo a encontrar o tal sentido da vida, mas ajudá-lo a descobrir que a vida se justifica por si só, que ela pode ser seu próprio sentido. 
A cultura moderna poderia ser dividida em dois grandes blocos (que não coincidem com as tradicionais divisões de esquerda vs. direita etc.): os que pensam que o sentido da vida não está na própria experiência de viver (mas na espera de um além, num projeto histórico etc.), e os que pensam que a experiência de viver, por mais transitória que seja, é todo o sentido do qual precisamos (nota: a psicanálise, inesperadamente, está nesse segundo grupo, por constatar que a gente sofre mais frequente e gravemente pelo excesso do que pela falta de um sentido).
Alguém dirá que, com o declínio das utopias políticas e algum avanço (talvez) do pensamento laico, o sentido da vida está em baixa. Em suma, eu estaria chutando um cachorro morto. 
Não concordo: talvez a própria crise das utopias e de algumas religiões instituídas esteja reavivando uma espiritualidade que tenta sacralizar o mundo, prometendo, no mínimo, sentidos ocultos. 
O esoterismo "new age" nos garante que a vida tem um sentido misterioso, que a gente nem precisa saber qual é. Melhor assim, não é? Acabo de ler um breve (e delicioso) ensaio do filósofo italiano Giorgio Agamben, "La Ragazza Indicibile" (a moça indizível, Electa, 2010). Agambem (retomando um ensaio de Jung e Kerényi, de 1941, sobre Koré, a moça sagrada -Perséfone na mitologia clássica) mostra que os mistérios de Eleusis (que são os grandes ascendentes do esoterismo ocidental) de fato não revelavam nenhum grande sentido escondido das coisas e da vida -a não ser talvez o sentido de uma risada diante do pouco sentido do mundo. 
Ele conclui com a ideia de que podemos e talvez devamos "viver a vida como uma iniciação. Mas uma iniciação ao quê? Não a uma doutrina, mas à própria vida e à sua ausência de mistério".


Contardo Calligaris



sábado, 1 de outubro de 2011

Pensando na morte da bezerra.


Hoje morreu mais um bezerro.
Dessa vez foi na casa que estou cuidando.
A Rita disse que nessa época do ano costuma ser difícil pros bezerros, principalmente para os da idade que estou cuidando. Pois o verão é muito quente, estressante e agora com a chegada do outono e com a mudança brusca do tempo, eles ficam doentes.
Este bezerro estava demonstrando sinais de estar doente há alguns dias, não estava comendo quando eu dava comida, nem se levantava. Eu já tinha falado com o pessoal, então damos remédio.
Agora de manhã quando fui dar capim, ele tinha morrido.
Essa coisa de morrer é um negócio chato.
Sentei na frente dele por um tempo e fiquei olhando.
Pensei: "esse bezerro morto na minha frente e o bezerro morto que estou olhando é a mesma coisa?"
A minha intenção era tentar olhar para minha forma de olhar a morte.
Pensei que olhar para morte do bezerro seria mais simples que olhar pra morte de uma pessoa que amo, ou mesmo para minha própria morte.
Eita negocio difícil.
Olhar para morte, só ela.
Ou o bezerro morto só ele.
Então veio muitas coisas na minha cabeça.
Normalmente nós começamos a lidar com morte quando alguém próximo morre. No meu caso, a primeira morte próxima de mim que lembro foi do meu avô Chico.
Eu tinha 6 anos na época e não entendi o que estava acontecendo, vi que todo mundo na minha família ficou triste. Tinha gente chorando. Eu me lembro do Michel (um amigo de infância que morava nos fundos da casa dos meus avós) vir me perguntar se eu estava triste por que meu avó tinha morrido. Lembro-me de não estar triste, mas achei que deveria dizer que estava, pois todos estavam logo eu também deveria estar. Se choravam era porque gostavam do meu vô então deveria mostrar que eu gostava dele também. Mas pra ser sincero não lembro se eu gostava do meu avô quando tinha 6 anos. Eu era pequeno. Hoje eu gosto do meu avô pelas lembranças que me contaram sobre ele, sobre a relação neto e avô que minha avó contava e também que minha mãe contou. Mas eu mesmo tenho poucas lembranças dele vivo. Lembro dele no sofá da sala e na cama já muito doente. 
Eu lembro que ganhei de "herança ou lembrança" o sino que ele tocava pra chamar minha avó. Eu ficava brincando com o sino dele.
Era azul.
Depois do meu avô vieram tios meus. Se eu for olhar só para os exemplos da família do lado da minha mãe.
Eu já tinha idade pra entender o que estava acontecendo.

Não fui ao enterro do meu tio Persílio, pois minha mãe achou melhor não ir. (acho)
Lembro que foi uma manhã fria e chuvosa e a gente morava perto do cemitério.
Eu me lembro de não ir à escola e ficar na cama quentinho assistindo TV Colosso.
O tio Jairo eu não fui por que era adolescente e me revoltei com essa coisa de morte.
“ele não está lá!”
“não tem sentido nenhum fazer velório!”
“não vou ver!”
Acho que falei esse tipo de coisa pra minha mãe sem me ligar que se tratava do irmão dela.
Como o tio Jairo não era muito próximo de mim, não sabia como era pra minha mãe. Quis entender as coisas só pelo meu ponto de vista.
Depois foi o tio Joaquim. Também não fui vê-lo.
Ano passado foi meu Tio Mário. Foi diferente, mais próximo e eu mais velho também... Minha tia e minhas primas... Eita! Minha mãe estava super acompanhando...Eita!
Esse ano minha vó linda!
Eita nois!
É como se ela estivesse me ensinando sobre a morte devagarzinho.
Muitos anos doentinha.
Alzheimer.
Pouco a pouco esquecendo quem era a gente, esquecendo a falar... Dois anos na cama. Devagarzinho ela me ensinou a ir deixando ela ir pouco a pouco. Como se ela fosse dizendo bem devagar, “estou indo Ângelo”...
Depois sem ela dizer mais nada eu comecei a aceitar ela do jeito que ela estava.
Toda vez que ia visitá-la eu dava a mão pra ela segurar e ela segurava, eu olhava nos olhos dela e ela olhava de volta. Como se ela me ensinasse a estar com ela assim. Não sei se ela me reconhecia (provavelmente não), mas isso não significa gente não estava junto. 
Tudo isso foi me ajudando a olhar para minha vida.
Como eu quero viver?
Que vida quero ter?

Isso foi umas das coisas que me fizeram decidir vir pro Japão.
Antes de vir fui me despedir de minha vó.
Era de fato a ultima vez que eu ia vê-la.
Ela me ensinou até isso.
A me despedir.
Eu disse que estava tudo bem.
Disse que estava vindo pro Japão e que ia ficar 5 meses fora.
Disse que estava tudo bem.
Que ela podia ficar tranqüila e relaxar.
Disse que eu a amava muito.
Então toquei viola pra ela, beijei ela no rosto muito longamente (como sempre fazia deste criança), pedi a “bença” e fui embora.
Dois dias depois ela também foi.
Não fiquei triste desta vez.
Desta vez eu pude estar com minha mãe.
Fui ao velório e fiz tudo que podia fazer. Que era nada. Só estar junto.

Eu não sei nada sobre a morte só ela.
Fiquei olhando o bezerro e não vi a “morte”.
Vi um animal sem vida.
A “morte” é como um personagem sem rosto que nós criamos.
Sei que é um fato que um dia não estarei mais vivo.
Mas a “morte” não sei o que é.
Como será?
Pensar nisso me dá Vontade de viver uma vida feliz.
Me dá vontade de estar aqui e agora.