terça-feira, 15 de novembro de 2011

teoria da vacuidade 1


Uma das concepções filosóficas mais importantes do budismo deriva daquilo que é conhecido como a teoria da vacuidade. Em seu coração está o profundo reconhecimento de que existe uma disparidade entre como as coisas realmente são, do modo como as percebemos, inclusive a nossa existência dentro dele. Na nossa experiência do dia-a-dia, tendemos a nos relacionar com o mundo e conosco mesmos como se essas entidades possuíssem uma realidade autocontida, definível, discreta (isto é, individualmente distinta, isolada) e duradoura. Por exemplo, se examinarmos nosso conceito de eu, descobriremos que tendemos a acreditar na presença de um núcleo essencial da nossa existência, que caracteriza nossa individualidade e identidade como um ego discreto (individualmente distinto), independente dos elementos físicos e mentais que formam a nossa existência. A filosofia da vacuidade revela que isto não apenas constitui um erro fundamental, mas é também a base para o apego, fixação e desenvolvimento dos nossos inúmeros preconceitos.
De acordo com a teoria da vacuidade, qualquer crença numa realidade objetiva, fundamentada na pressuposição de existência intrínseca independente, é indefensável. Todas as coisas e eventos sejam conceitos materiais, mentais, ou mesmo abstratos como o tempo, são destituídos de existência independente. Tal existência independente, intrínseca, implicaria que as coisas e os eventos são de alguma forma completos em si próprios e, portanto, estão inteiramente autocontidos.
Isto significaria que nada tem a capacidade de interagir com e exercer influencia sobre os outros fenômenos. Mas sabemos que existe causa e efeito – gire uma chave de partida, os plugues de faíca se inflamam, o motor liga e a gasolina e o óleo são queimados. Num universo de coisas autocontidas inerentemente existentes, estes eventos nunca ocorreriam. Eu não poderia escrever no papel e o leitor não seria capaz de ler as palavras nesta pagina. Portanto, já que interagimos e fazemos trocas recíprocas, devemos supor que não somos independentes, embora possamos sentir ou intuir que sim.

DALAI LAMA

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