Um ouvido que cresce no peito.
Esse é um dos sentimentos mais fortes que fica pra mim
nestes meses aqui no Japão.
Não sei falar japonês, não entendo as palavras em japonês.
Ao me relacionar com as pessoas é difícil se comunicar com
as palavras.
O mesmo acontece com as vaquinhas, elas não falam o que
estão sentindo e não entendem as palavras que eu falo. Eu me peguei muitas vezes
sem saber em que língua falar com as vacas:
Oideeee!
Olha o leite!
Milk!
Pra pedir passagem:
Excuse me!
Sumimassen!
Dá
licença!
Um dia elas não estavam vindo comer e eu pensei em imitar
voz de mulher (pois quem cuida dos bezerros na maioria são mulheres)...então
gritei num falsete desafinado..”OIDEEEEEEE”!
Mas na verdade que diferença faz?
Com palavras, sem palavras...
Sem as palavras não tive problemas de entender o que
precisava ser feito, não tive problemas pra fazer junto, pra ouvir as pessoas e
as vaquinhas.
Acredito que fiquei mais sensível pra olhar melhor, ler os
detalhes e ter calma pra fazer esse processo de escutar. Sem palavras o foco
não dá pra ficar só no que acontece entre eu e as pessoas, ou no que estou
pensando enquanto escuto. Precisei ajustar o foco mais nas pessoas, ou nas vacas.
E procurar olhar bem, ouvir bem.
É como um ouvido que cresce no peito ou uma orelha no
coração. Como um abraço ou um aperto de mão. Entre "kokoros".
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