sábado, 27 de agosto de 2011

Saudade


Neste momento deve estar rolando a despedida do T.

Eu tentei ligar no telefone da Hanna, mas num deu certo...estou sem celular e o burro aqui não tem os fones de ninguém, a Hanna é a unica que coloca o cel no fim dos emails..então...paciência..queria muito ligar numa hora que estivessem todos juntos.
Estou com muita saudades de todos!
Aproveito e colo aqui um post que o T fez no blog dele ( dizemqueeuviajo.blogspot.com )
Achei muito bonito e é bem o que estou sentindo agora.
Boa viagem meu irmão!

Já ouvi dizer que os esquimós têm mais de dez palavras que significam "neve", cada uma para um tipo de neve, o que faz sentido se você é um esquimó e saber o tipo de neve pode ser a diferença entre a vida e a morte, mas nenhum sentido no Brasil, onde nunca neva. Eu sei que o feminino de papa é papiza, mas isso também não faz a menor diferença, porque não vai ser tão cedo que vai existir uma papiza.
Não existe nenhuma outra língua no mundo que tenha uma palavra para saudades. Traduz paramiss, em inglês, que na verdade significa "perda". Mas sentir saudades não é o mesmo que sentir uma perda.



E quem disse que a saudade que eu sinto é a mesma que o outro sente? Talvez estejamos presos a uma espécie de torre de babel ao falar de sentimento, e ao, com nossas línguas que têm uma capacidade limitada de descrever as coisas do mundo, fico com a sensação de que não é bem isso.

Como se chama quando você está feliz porque o momento foi muito especial, e triste porque o momento especial se foi, e ao mesmo tempo sabe que foi especial porque não passou de um momento que não voltará?

E o mundo gira e continua sem se importar com o que eu acho.




sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Os japinhas fofuxos!

AIQUECOISINHACUTICUTIFOFUXAVOUAPERTARUIUIUIQUEROUMPRAMIM!
A Aninha está cuidando desses japinhas!

                                          Estou vomitando  arco-iris até agora!

Os Porcos

Essa semana comecei a trabalhar com os porcos aqui em kasugayama.


Todos os dias eu limpo as merdas dos porcos, dou comida, limpo o chiqueiro e coloco serragem nova. Ontem nós fizemos transferência de uns porquinhos de um galpão para outro.
Está interessante trabalhar com os porcos. Eles são parecidos com cachorros às vezes. Às vezes eles parecem com a gente, se olhar nos olhos deles eles parecem gordinhos engraçados.
Tem hora que eles se assustam, tentam correr, escorregam e caem de maduro no chão, parecem gordinhos se machucando...adoro esses momentos, por que eles são engraçados!
Ontem por conta das transferências nós trabalhamos duas horas a mais, e hoje acordamos às 5 da manhã, pois tinha que limpar muito cocô.
Estou muito cansado.
Mas estou realmente gostando de fazer isso. Trabalho junto com o Riorei e ele é muito gente boa.
E enquanto estou lá estou trabalhando muita coisa internamente.
Às vezes meu pensamento voa em lembranças, e isso dá muita saudade de casa. Dos meus pais, meus irmãos, meus amigos, dos meus primos, a família, da galera com quem já trabalhei, das viagens, das apresentações.
Sinto saudade do teatro, dos amigos que já fizeram teatro junto comigo, das peças que fizemos juntos. Do “caderno da morte”, da zero zero.
Às vezes os japinhas me pedem pra imitar o L e bate uma puta saudade. Outro dia mostrei umas fotos do “Qioguem?!” Eles piraram! Deu saudade de tudo isso. Das viagens do SESI, Festivais, temporadas, da casa cheia e da casa vazia,da facu, dos processos valiosos, do “Inspetor Geral”, dos processos valiosos mas que ficaram pelo caminho como o “Terror”,  do rio Capibaribe e os Severinos, da terra de cada lugar que fomos, do Tengen querendo nascer, do balão que voa pela Inglaterra, do Mirandolina, do Rasto maravilhoso, do Márcio fofo, das Linhas de Rumo, rumo tão importante pra mim e ainda tão vivo no meu coração, dos cigarros do Interssecções, aquela fumaça toda, Tom Waits, alargadores espiralados de metal, o inesquecível Doente Imaginário, o Catléia sex...ah se eu fizesse o catléia hoje!!!!
E antes disso o Dom Pedro I no colegial e aquela bendita noite de apresentação que decidi ser ator a vida toda.
E antes disso as peçinhas do Liceu em cena, juiz de paz da roça, aquele que diz sim, aquele que diz não, sem ter idéia de quem era Bretch.
E antes disso as vilas paraísos e os teatrinhos no encontro da amizade, o super verdura, apresentação na festa da primavera. Com um monte de flor de papelão...

Estou em kasugayama agora.

Sinto saudade de tudo isso, mas sinceramente não sinto falta de caçar editais, produzir e torcer pela loteria. Não sinto falta de São Paulo, de olhar os preços mais baratos no supermercado, de gastar toda grana com aluguel, das crises de pânico no metro.
De dar aulas do outro lado da cidade entre um ensaio e outro.
Naqueles dias eu achava que teatro era tudo que eu sabia fazer, que eu não sabia fazer outra coisa. Aos poucos fazer teatro foi deixando de ser uma escolha...é só o que sei fazer.
Eu sempre admirei todos que trabalham com teatro no Brasil, só pelo fato de insistirem.
Mesmo fazendo peças sem noção às vezes...
Hoje estava limpando côco de porco, já trabalhei com bezerros também aqui no Japão, com tomates, com galinhas, com morangos.
E não me interessa se vou fazer isso a vida toda ou se vou voltar a fazer teatro quando voltar pro Brasil.
Hoje me sinto mais livre, pois não tem o sentimento de estar preso a idéia de construir uma carreira de sucesso ou de estar preso a única coisa que sei fazer. Eu sei fazer uma porção de coisas, na verdade eu posso fazer o que eu quiser. É claro não dá pra ser astronauta, nem jogador de futebol, pois gosto de coçar o nariz e sou perneta.
Mas cada dia aqui é um momento pra experimentar viver a felicidade sem condições.
Não tem mais aquele pensamento de só vou ser feliz se for ator, só vou ser feliz se fizer tal peça, se fizer tal personagem, só vou ser feliz se estiver criando.
A felicidade não precisa ser somente possível se as condições forem favoráveis.
É claro que ajuda. É claro que é natural querer melhores condições pra ser feliz.
Mas se a felicidade depender das condições externas é como se a gente construísse a nossa própria armadilha. Não há liberdade.
Estou experimentando minha vida sem ser ator e pensando se posso deixar de fazer isso pro resto da vida. Não é que eu tenha desistido, mas pelos nos últimos 10 anos só me vi fazendo isso, é um grande apego meu. Já que hoje não estou atuando, pensei em me fazer essa pergunta: Posso viver sem voltar a atuar? de verdade? Se realmente eu puder dizer que sim, talvez eu possa voltar e ser pela primeira vez ator. Se eu quiser.
Volta a ser uma escolha. Não é porque eu preciso.
Isso vale pra todas as outras coisas.
Estar perto de casa, da comida que gosto, das pessoas que amo.
O que a gente realmente precisa pra ser feliz?
Precisa de algo? Ou é somente uma escolha?
É claro que eu estou louco por uma cerveja agora. E quando penso em voltar para o Brasil quero fazer um churrascão com todo mundo. ... viver sem violão fica mais difícil...
Mas gostaria de ir bem fundo nisso o máximo que eu puder. Sem pegadinhas e sem roubar. Sendo bem sincero comigo mesmo e aos poucos ir tirando as condições pra ser feliz...ser livre das insatisfações e ser satisfeito com uma vida plena.
E se eu voltar a fazer teatro, gostaria de começar do começo, do ponto zero. Sem referências acumuladas, sem formas pré-estabelecidas, sem estilo, linguagem, técnicas refinadas...ia ser bom se fosse simples, próximo do sentimento verdadeiro que liga pessoa com pessoa, fazer com amor, com liberdade. E que seja uma homenagem a vida.
Alguém topa fazer junto?



 Hoje nós almoçamos debaixo do pé de uva.







segunda-feira, 22 de agosto de 2011

De volta da escola de kensan....

Meio perdido, bem mais encontrado.
Meio dormindo, bem mais acordado.
Acorda Miguel!!!
É difícil falar sobre essas duas semanas. Nos primeiros dias estava falando muito durante as reuniões de kensan. No fim não sabia mais o que dizer, só sentia muita emoção e gratidão pelo simples fato de estar vivo.
Senti todas as pessoas que me deram suporte toda a minha vida.
Percebi que são muitas.
Algumas pessoas nem devem saber que foram determinantes no meu modo de ser, outras devem ter sido fundamentais, mas eu não lembro ou não percebo.
Mas se eu for tentar olhar para essa cadeia e segui-la até o começo, ela é infinita... vai até antes do meu nascimento. E então começa a entrar mais e mais fatores importantes, não só pessoas, mas toda a natureza também.



Eu senti como se estivesse aberto.
O ponto chave para isso foi um vaso.
Este vaso na minha frente e o vaso que estou vendo...são a mesma coisa?
PORRADENOVOESSAPERGUNTAKUSAIONARA?
“Este vaso que está na sua frente e o vaso que você está vendo...são a mesma coisa?”
Já pensei tanto sobre isso...onde eu estava mesmo?  Será que tem mais coisa? O que mais posso investigar?
Ok, vamos começar de novo, do zero, ver com meus olhos de hoje...ver o vaso...ver o vaso...ver o vaso....este vaso? O vaso que vejo? É a mesma coisa? Olha para o vaso...
Claro que é o mesmo eu posso ir lá e pegar ele....não é o mesmo... se fosse realmente o mesmo eu estaria morto. O vaso não cabe fisicamente dentro da minha cabeça... na minha cabeça é sua imagem, é como eu percebo o vaso...através dos meus olhos limitados que não vê tudo que está fora, então eu o vejo e o entendo pelas comparações que faço com o que vivi antes, com o que eu aprendi antes, e assim vou dando juízos, valores, vou pondo sentimentos até...neste simples vaso.
“ Eu gosto deste vaso porque gosto da cor, eu gosto da cor porque me lembra uma bicicleta que tive quando era criança que era da mesma cor...ou porque eu aprendi com tal pessoa (que eu adoro) que essa cor significa renovação, lembra o mar, lembra vida...mas e o vaso? Só o vaso...como é na verdade?”
Ou
Eu não gosto deste vaso, tem cor de côco, minha avó tinha um vaso parecido, não podia chegar perto do vaso, era raridade de família, valioso, com mais de 100 anos”
...olha pra o vaso, só o vaso...diferenciando o que eu vejo com o que está na minha frente...
Sentado numa cadeira olhando o vaso...hoje!
Penso...se posso afirmar  100% que este vaso e o vaso que vejo são a mesma coisa, então posso afirmar que as pessoas são capazes de ver as coisas como elas realmente são.
Mas e os mal-entendidos que vemos acontecer tanto na nossa vida?
Se há tantos mal-entendidos é por que há um espaço claro entre as coisas como elas são e as coisas como cada pessoa vê, e entende.
Bom...hoje vou até aqui...o kensan acabou...estou cansado.

Lembrando dessas duas semanas, não foram durante as reuniões que as fichas caíram e bateram forte dentro de mim, foram durante os trabalhos práticos e a vida cotidiana, em que mantive os temas em mente.
No dia seguinte estava limpando uma torneira de novo, todos os dias estava fazendo a mesma coisa, limpando o lavatório, que por mim já estava limpo! Limpando mais uma vez, de novo, a mesma torneira...espera... a repetição é algo que eu crio, ela não está na natureza, está na minha cabeça, sou eu que acumulo, eu que sinto acumulando, repetindo. Na verdade é a primeira vez. Se eu tiro o meu olhar do ato de olhar e só olhar...é sempre a primeira vez.
E tudo que eu tentar descrever a partir de agora vai soar mais fraco, só uma parte, canastra até, mas me senti muito feliz, senti que estava vendo a torneira, senti gratidão por estar vivo neste momento e vi que não é preciso ter mágica nos olhos pra ser feliz. As coisas como elas são na simplicidade delas já são incríveis demais, mágicas o suficiente.




Não foi um entendimento somente intelectual e racional, não foi só uma sensação do coração. Foi as duas coisas juntas, elas não estão separadas.
 E então fui e vi a Aninha dormindo...
Não era de novo, não era meu medo, não era a Aninha deprimida, era a Aninha pela primeira vez.
“Como você está hoje?”
“tô triste”
“Tudo bem! É normal se sentir triste. Vai passar!”
...passou...
Eu não me sinto capaz de afirmar nada com certeza.
Mas quando a gente diferencia as coisas como elas são das coisas como a gente percebe e mantém esse espaço, e vai fundo tentando entender os instrumentos que usamos pra entender as coisas...
Então começo a me perguntar: como elas chegaram na minha cabeça?
Então me parece que muitas coisas que tomo como certas, verdadeiras, na verdade não são necessariamente reais, apesar de parecerem tão reais.
Naquela manhã me pareceu que a depressão não tem a aninha, nem ela tem a depressão, mas que existe uma idéia fixa de depressão, idéia fixa de que não merecermos ser felizes. Na verdade a felicidade é um fato e que ao não se apegar tanto na nossa forma viciada de pensar, e procurar manter esse espaço, entre o que a gente vê de como a gente entende. A felicidade já está acontecendo antes da gente decidir olhar pra ela.
Mas é só como eu entendi...é como me sinto agora.
Na verdade me sinto incapaz de manter-me me olhando atentamente...sou bastante limitado pra me enxergar, me ver sem meus vícios de pensamentos e minhas teimosias.
É importante fazer junto com mais pessoas, não ficar sozinho...
Estar com a Aninha me ajuda muito.



E seguir devagar, passo a passo
Dia a dia
A vida toda.