segunda-feira, 22 de agosto de 2011

De volta da escola de kensan....

Meio perdido, bem mais encontrado.
Meio dormindo, bem mais acordado.
Acorda Miguel!!!
É difícil falar sobre essas duas semanas. Nos primeiros dias estava falando muito durante as reuniões de kensan. No fim não sabia mais o que dizer, só sentia muita emoção e gratidão pelo simples fato de estar vivo.
Senti todas as pessoas que me deram suporte toda a minha vida.
Percebi que são muitas.
Algumas pessoas nem devem saber que foram determinantes no meu modo de ser, outras devem ter sido fundamentais, mas eu não lembro ou não percebo.
Mas se eu for tentar olhar para essa cadeia e segui-la até o começo, ela é infinita... vai até antes do meu nascimento. E então começa a entrar mais e mais fatores importantes, não só pessoas, mas toda a natureza também.



Eu senti como se estivesse aberto.
O ponto chave para isso foi um vaso.
Este vaso na minha frente e o vaso que estou vendo...são a mesma coisa?
PORRADENOVOESSAPERGUNTAKUSAIONARA?
“Este vaso que está na sua frente e o vaso que você está vendo...são a mesma coisa?”
Já pensei tanto sobre isso...onde eu estava mesmo?  Será que tem mais coisa? O que mais posso investigar?
Ok, vamos começar de novo, do zero, ver com meus olhos de hoje...ver o vaso...ver o vaso...ver o vaso....este vaso? O vaso que vejo? É a mesma coisa? Olha para o vaso...
Claro que é o mesmo eu posso ir lá e pegar ele....não é o mesmo... se fosse realmente o mesmo eu estaria morto. O vaso não cabe fisicamente dentro da minha cabeça... na minha cabeça é sua imagem, é como eu percebo o vaso...através dos meus olhos limitados que não vê tudo que está fora, então eu o vejo e o entendo pelas comparações que faço com o que vivi antes, com o que eu aprendi antes, e assim vou dando juízos, valores, vou pondo sentimentos até...neste simples vaso.
“ Eu gosto deste vaso porque gosto da cor, eu gosto da cor porque me lembra uma bicicleta que tive quando era criança que era da mesma cor...ou porque eu aprendi com tal pessoa (que eu adoro) que essa cor significa renovação, lembra o mar, lembra vida...mas e o vaso? Só o vaso...como é na verdade?”
Ou
Eu não gosto deste vaso, tem cor de côco, minha avó tinha um vaso parecido, não podia chegar perto do vaso, era raridade de família, valioso, com mais de 100 anos”
...olha pra o vaso, só o vaso...diferenciando o que eu vejo com o que está na minha frente...
Sentado numa cadeira olhando o vaso...hoje!
Penso...se posso afirmar  100% que este vaso e o vaso que vejo são a mesma coisa, então posso afirmar que as pessoas são capazes de ver as coisas como elas realmente são.
Mas e os mal-entendidos que vemos acontecer tanto na nossa vida?
Se há tantos mal-entendidos é por que há um espaço claro entre as coisas como elas são e as coisas como cada pessoa vê, e entende.
Bom...hoje vou até aqui...o kensan acabou...estou cansado.

Lembrando dessas duas semanas, não foram durante as reuniões que as fichas caíram e bateram forte dentro de mim, foram durante os trabalhos práticos e a vida cotidiana, em que mantive os temas em mente.
No dia seguinte estava limpando uma torneira de novo, todos os dias estava fazendo a mesma coisa, limpando o lavatório, que por mim já estava limpo! Limpando mais uma vez, de novo, a mesma torneira...espera... a repetição é algo que eu crio, ela não está na natureza, está na minha cabeça, sou eu que acumulo, eu que sinto acumulando, repetindo. Na verdade é a primeira vez. Se eu tiro o meu olhar do ato de olhar e só olhar...é sempre a primeira vez.
E tudo que eu tentar descrever a partir de agora vai soar mais fraco, só uma parte, canastra até, mas me senti muito feliz, senti que estava vendo a torneira, senti gratidão por estar vivo neste momento e vi que não é preciso ter mágica nos olhos pra ser feliz. As coisas como elas são na simplicidade delas já são incríveis demais, mágicas o suficiente.




Não foi um entendimento somente intelectual e racional, não foi só uma sensação do coração. Foi as duas coisas juntas, elas não estão separadas.
 E então fui e vi a Aninha dormindo...
Não era de novo, não era meu medo, não era a Aninha deprimida, era a Aninha pela primeira vez.
“Como você está hoje?”
“tô triste”
“Tudo bem! É normal se sentir triste. Vai passar!”
...passou...
Eu não me sinto capaz de afirmar nada com certeza.
Mas quando a gente diferencia as coisas como elas são das coisas como a gente percebe e mantém esse espaço, e vai fundo tentando entender os instrumentos que usamos pra entender as coisas...
Então começo a me perguntar: como elas chegaram na minha cabeça?
Então me parece que muitas coisas que tomo como certas, verdadeiras, na verdade não são necessariamente reais, apesar de parecerem tão reais.
Naquela manhã me pareceu que a depressão não tem a aninha, nem ela tem a depressão, mas que existe uma idéia fixa de depressão, idéia fixa de que não merecermos ser felizes. Na verdade a felicidade é um fato e que ao não se apegar tanto na nossa forma viciada de pensar, e procurar manter esse espaço, entre o que a gente vê de como a gente entende. A felicidade já está acontecendo antes da gente decidir olhar pra ela.
Mas é só como eu entendi...é como me sinto agora.
Na verdade me sinto incapaz de manter-me me olhando atentamente...sou bastante limitado pra me enxergar, me ver sem meus vícios de pensamentos e minhas teimosias.
É importante fazer junto com mais pessoas, não ficar sozinho...
Estar com a Aninha me ajuda muito.



E seguir devagar, passo a passo
Dia a dia
A vida toda.



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