domingo, 3 de abril de 2011

Uma mente sem limites

(colando  por preguiça)...
(mas vale a pena) ....




O interessante é aprender a aceitar nossas limitações, ao mesmo tempo em que tentamos transcendê-las

IMAGINE UMA pílula que ofereça poderes intelectuais ilimitados, que cause uma avalanche de atividade neuronal, elevando o cérebro a um nível de percepção incomparável. Você toma aquilo e, por algumas horas, vira uma espécie de deus.

Essa é a premissa do novo filme "Sem Limites", dirigido por Neil Burger e baseado no romance de Alan Glynn. O enredo nos apresenta Bradley Cooper no papel de um escritor fracassado que é transformado num gênio pelos poderes de uma milagrosa droga psicotrópica.

Imagine se o cérebro tivesse um poder tremendo, uma capacidade ilimitada de percepção e dedução anestesiada pela rotina? O que chamamos de criatividade, de "insights" geniais, são meras fagulhas do que poderia ocorrer, a percepção de uma realidade que tudo engloba, uma nova dimensão da existência.

Será possível abrirmos as portas para essa realidade, libertando-nos da "trivialidade" a que somos acorrentados pelo uso de apenas uma fração do nosso córtex?

Na verdade, a ideia de que usamos apenas 10% do cérebro é um mito. Usamos o órgão por inteiro, cada parte com uma função bem conhecida. Caso contrário, teríamos evoluído de forma diversa, com cérebros menores e mais econômicos.

Portanto, o ponto não é ativar áreas adormecidas do cérebro, mas criar conexões mais eficientes entre os neurônios: o segredo está em aumentar o número de pontes entre eles, intensificar o trânsito, por assim dizer, criando novas ressonâncias que levem a um patamar mais elevado de consciência.

Será que uma pílula pode realmente fazer isso?

Ninguém sabe. Mas vejamos onde estamos hoje. Milhões de pessoas, incluindo crianças, tomam vários medicamentos à base de anfetaminas, todos estimulantes.

As drogas aumentam a quantidade de dopamina no cérebro, otimizando o foco e a atenção, a libido e o nível geral de eficiência cognitiva do paciente. Essas drogas são, de certa forma, versões simplificadas da NZT 48, a pílula mágica do filme: a ficção ampliando o que já existe. Será que a ciência pode chegar a algo assim? E, se puder, quem a tomaria?

Vemos aqui mais uma versão moderna da lenda de Fausto. Agora o Diabo veste as roupas da indústria farmacêutica, ou as de um traficante de drogas.
No romance "A Pedra Filosofal", de 1969, Colin Wilson imaginou um cenário semelhante: com o implante de eletrodos em pontos estratégicos do córtex pré-frontal, seria possível catapultar o cérebro a um nível de funcionamento inimaginável.

O "homem liberado" que resulta do experimento é transformado num profeta, num gênio, num deus, capaz de ver o passado e o futuro, de decifrar significados profundos sobre o Universo que as pessoas mais comuns nem sonham existir.

Será que nós podemos acender todas as luzes sem queimar o fusível central? Qual a vantagem de uma mente ilimitada?

No filme, as vantagens que temos permanecem: quem é mais inteligente continua mais inteligente. Talvez possamos extrair uma lição importante do filme e do livro: o que torna a vida interessante não é atingir níveis fantasiosos de percepção, mas aprender a aceitar nossas limitações ao mesmo tempo em que tentamos transcendê-las.

marcelo gleiser

Um comentário:

  1. Ontem (ou hoje cedo, não lembro) visitei seu blog e postei um
    comentário super legal no post Uma mente sem limites, mas o blogger
    deu algum erro e aí quando eu cliquei voltar meu comentário tinha
    sumido. Aí eu fiquei bravo e fui comprar a marmita do dia.

    O comentário é o seguinte:

    O que nós percebemos, e, portanto, o mundo em que vivemos, não passa
    da maneira pela qual nosso cérebro interpreta as informações que
    sentimos (pelos 5 sentidos). As coisas são perceptíveis para nós
    mesmos à medida que têm algum significado - por isso, por exemplo, um
    especialista em arte interpreta um quadro de forma diferente que um
    leigo o faria. As coisas que não têm significado nenhum simplesmente
    passam despercebidas (ou seja: até você aprender o alfabeto japonês,
    todos os símbolos vão te parecer como a mesma coisa).

    Por outro lado, nós também percebemos coisas que não estão lá, às
    vezes. Isso não só nos relacionamentos com outras pessoas como em
    coisas bem simples. Quando a gente é criança, o monstro dentro do
    armário é real o suficiente para fazer nossa rotina mudar. Ou ainda,
    nossas noções de certo e errado, bom e ruim, etc., podem até não estar
    completamente conectadas a coisas reais, mas são percepções que
    constituem nossas escolhas.

    À medida que vivemos, aprendemos que certas coisas têm significados e
    que certas coisas não eram bem como achávamos que eram. E então
    mudamos nossa percepção.

    A nossa capacidade de perceber o mundo com significados depende de
    nossa capacidade de inferência. Sabemos que aquele objeto é uma
    cadeira porque inferimos seu uso, mesmo que ninguém esteja sentado
    nela naquele momento. Às vezes inferimos coisas erradas, também.

    Uma mente com capacidade de inferência infinita também iria ter que
    ser educada infinitamente, a não ser que já nascesse sabendo
    praticamente todas as coisas. Se essa mente não tivesse contato com
    alguma coisa do mundo, aquela coisa simplesmente não faria parte de
    seus pensamentos, porque não existiria informação suficiente para
    inferir sua existência.

    Uma outra coisa que tem que ser levada em conta é que uma mente capaz
    de entender todo o universo completamente deveria, também, se
    auto-entender, e, portanto, deveria ser maior que o universo, o que
    nos levaria a um paradoxo (no começo do século XX, final do XIX, os
    físicos começaram pensar nisso).

    E, por fim, penso na necessidade de uma mente infinita. Primeiro,
    porque nós somos capazes de ser felizes com nossa capacidade finita, e
    nem sempre conhecer mais coisas traz mais felicidade. E segundo,
    porque alguém com capacidades infinitas rapidamente se destacaria e
    seria considerado ou um gênio ou um louco, afinal, genialidade e
    loucura são só duas versões da mesma capacidade de ver o mundo de
    outra forma.
    comentário do T

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