terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Vipa 37


Estou neste momento sentado no corredor na frente do salão olhando para o gramado. Ficaram os bambus espalhados por todos os lados me lembrando da bagunça que foi a última noite desta Vila que acabou ontem.
Estes bambus jogados refletem para mim a essência desta Vila. Este lugar é a casa deles. A Vila é deles.
Eles deixaram assim e assim ficou.
Sentado aqui sozinho agora chega a ser estranho. Já estou com saudades de todos. Penso que este lugar precisa estar sempre cheio de gente. Ou será que sou eu? De qualquer forma agora remanesce um sentimento muito gostoso.
Começo agora a apreciar esta solitude. Acompanho com meus olhos a folha da árvore que cai com o vento que está esfriando. Ouço os trovões distantes, dizendo pra mim que a chuva está chegando.

Agora estou me lembrando do passeio dos cinco sentidos que fizemos no primeiro dia.
O passeio acabou num banho de chuva!

Os temas desta Vila foram: 
  • Força de vontade. Faço dando o máximo de mim.
  • Faço amizade com tudo e com todos.

Eu propus o tema da força de vontade, pois particularmente eu queria repensá-lo.
Esta fase de tantas mudanças e de recomeçar o movimento das Vilas está me colocando de frente com este tema.

Estou dando o máximo de mim?

Durante a Vila e quando ela termina é claro que sou tomado por um sentimento de grande felicidade, mas o preparo de uma Vila começa muito tempo antes. Eu tenho dificuldade com esta “pré-Vila Paraíso”.
Umas das coisas que pensei olhando para o tema da força de vontade, foi tentar distinguir quais obstáculos são reais e quais são da minha cabeça. Obstáculos que eu creio estar vendo e que vão minando minha força de vontade.
No primeiro dia tinha um pessoal que não queria colher inhame. Mesmo com roupa de trabalho, alguns não queriam sujá-las. Nem mesmo as mãos.
Mas por quê?

Tenho nojo! Tá chato! Quero fazer outra coisa!
Hmm! Por exemplo. O que é o nojo? 

O que é o nojo? Ele é real ou coisa da nossa cabeça?
Fiquei pensando nisso um tempo... O nojo é um obstáculo?
Passei a jogar isso para todas as coisas que atualmente eu estou vendo como obstáculos e fui examinando-as uma por uma. Será que elas são reais ou coisas da minha cabeça?

(Pra fazer isso eu precisei de um tanto de força de vontade!)

Ultimamente tenho tido dificuldade para estar aberto com as pessoas e também dificuldade para me aproximar delas. Mesmo querendo me aproximar tenho vergonha, timidez, então decido evitá-las, pois não quero incomodar.
Agora sinto vontade de me abrir mais.

Faço amizade com tudo e com todos.
Quando penso nesta Vila a palavra que vem na cabeça é amizade.

Por exemplo, O Well chegou somente no dia seguinte. Logo que acordei a primeira pessoa que vi foi ele, lá dentro do quarto dos meninos. Foi como se ele tivesse materializado lá naquele mesmo instante. Eu fiquei muito feliz! Então veio a Isa correndo e pulou em cima dele. Ai eu fiquei mais feliz ainda! Pô! Que da hora ver a amizade deles assim!

A Vila é deles!

E eu só estou ajudando a cuidar para que tenha e continue existindo este espaço para eles estarem juntos e nós junto deles.
Quando eles percebem que existe este espaço eles se esbaldam!
E eu sempre fico surpreso com o quanto eles são inteligentes e espertos.
Nessas horas eu não sinto vontade de ser “pai da vila”, mas sinto vontade de entrar na brincadeira junto com eles e ser criança junto.



Eu posso confiar neles?
Eu posso confiar em mim? Para deixar ser assim?
Na real. Eu tenho alguma escolha?

Fecho minhas impressões com o que a Tati disse no último dia, algo parecido com isso:

“Ainda bem que existe tudo isso! Esta colher pra gente lavar, por exemplo.
Ainda bem que existem todas estas coisas pra gente fazer junto!”

Pois é Tati! 
Ainda bem que existe tudo isso!



segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Uma fómula simples

                                                  Agora vocês sabem!

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

A queda d`água

" Nossa vida e nossa mente são a mesma coisa. Quando percebemos este fato, não tememos mais a morte nem temos verdadeiras dificuldades em nossa vida."

Fui ao Parque Nacional de Yosemite e vi quedas d`água enormes. A mais alta tem 408 metros e a água desce como uma cortina lançada do topo da montanha. Não parece cair com velocidade, como seria de se esperar; parece cair muito devagar por causa da distância. E a água não desce como uma única torrente, mas se divide em muitas e diminutas  quedas. À distância, assemelha-se a uma cortina. E ocorreu-me que deve ser uma experiência muito difícil para cada gota d`água cair do topo de uma montanha tão alta. Leva muito tempo, você sabe, um longo tempo, para a água chegar finalmente ao fundo da catarata. Parece-me que a vida humana pode ser assim. Temos muitas experiências difíceis. mas ao mesmo tempo, pensava eu, originalmente a água não estava dividida e era um único rio. Apenas quando se dividia é que encontrava dificuldade ao cair. É  como se a água, enquanto rio, não experimentasse nenhuma sensação. Somente quando dividida em muitas gotas é que poderia começar a ter ou expressar alguma sensação. Quando olhamos um rio não percemos a atividade viva da água; mas quando apanhamos um pouco de água num balde, experimentamos algum sentimento pela água e sentimos também o valor da pessoa que a usa. Cientes, deste modo, de nós mesmos e da água, não podemos usá-la de forma meramente material. Ela é coisa viva.
Antes de nascermos, não tínhamos sentimentos éramos um com o universo. A isso chama-se "só-mente" ou "essência da mente" ou "mente grande". Após o nascimento, somos separados dessa unidade, como a água da catarata que se divide pelo efeito do vento e das rochas; só então passamos a ter sentimentos. Você tem dificuldades porque tem sentimentos. Você se apega ao que sente sem saber ao certo como é criado esse tipo de sentimento. Quando você não percebe que é um com rio ou um com o universo, você tem medo. Dividida em gotas ou não, a água é água. Nossa vida e nossa morte são a mesma coisa. Quando percebemos esse fato, não tememos mais a morte, nem temos verdadeiras dificuldades em nossa vida.
Quando a água volta à sua unidade original com o rio, deixa de ter qualquer sentimento individual; a água retoma sua própria natureza e encontra serenidade. Que contente deve ficar a água ao retornar ao rio original! Se assim for, que sentimento teremos ao morrer? Penso que somos como a água no balde. Então, quando morrermos, teremos serenidade, perfeita serenidade. Talvez nos pareça perfeito demais neste momento, tão apegados estamos aos nossos próprios sentimentos, à nossa existência individual. Nós, neste momento, temos algum medo da morte, mas, depois que retomamos nossa verdadeira natureza original, há o nirvana. Eis a razão pela qual dizemos: "atingir o nirvana é morrer". "Morrer" não é uma expressão muito adequada. talvez fosse melhor "prosseguir", ou "continuar", ou "juntar-se". Você poderia achar uma expressão melhor para a morte? Se a achar, terá uma interpretação inteiramente nova para sua vida. será como minha experiência quando vi a água descer naquela grande queda. Imagine! eram 408 metros de altura!
Nós dizemos:"Tudo surge da vacuidade". A totalidade de um rio a totalidade de uma mente é vacuidade. Quando chegamos a esta compreesão, encontramos o verdadeiro sentido da vida. Quando chegamos a esta compreensão, podemos ver a beleza da vida humana. Antes de percebermos este fato, tudo quanto vemos é só ilusão. Algumas vezes superestimamos a beleza; outras vezes a subestimamos ou a ignoramos, porque nossa mente pequena não está em sintonia com a realidade.
Falar sobre isto como estamos fazendo é bastante fácil, mas ter a experiência do sentimento real não é tão fácil. Contudo quando você compreender isto, descobrirá quão insensata era sua velha interpretação e a inutilidade dos esforços que vinha fazendo. Você encontra-rá o verdadeiro significado da vida e, apesar das dificuldades na descida vertical desde o topo até o pé da queda d`água, você apreciará sua vida.

Shunryu Suzuki

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Presente do Papai Noel!

Fiz esse video para participar do concurso do Cifra Club.
Se eles escolherem meu video eu ganho um violão novo! e é um violão DAHORA!
Aproveitei a musica da Wall, pois nos últimos dias essa música não tem saido da minha cabeça!
É waiting for the sun to shine na hora que acordo, é esperando o sol brilhar quando estou almoçando,  Esperando el sol brillar quando tô cagando...(esperando mesmo)!
Essa música é muito bonita e está sendo a trilha sonora desse fim de ano bárbaro!


Torçam para eu ganhar esse concurso. Nunca participei de nada e nem rifa na minha vida ganhei! Mas dessa vez seria um bom presente do papai noel!

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Minhas impressões da Vila Mundo.


Essa Vila Mundo começou há muito tempo dentro de mim. Ela veio vindo mansamente, se transformando e se concretizando pouco a pouco a partir da minha vontade e da vontade de muitas pessoas.
A vontade de fazer vila paraíso é uma coisa muito presente e clara pra mim o tempo todo, mas dessa vez essa Vila Mundo tem um gosto especialmente único. Ela marca pra mim o momento em que passei a zelar como pai da vila. Mesmo que eu continue sendo eternamente irmão mais velho do Axell, do Wellington e da Isabella. Essa vila nós fizemos com os nossos próprios pés. Eu, Jota, Lê e Aninha andamos sob um solo seguro que a Inês e a Jane cuidaram, mesmo solo que foi cuidado por tantas e tantas pessoas ao longo da minha história.
E agora eu to feliz pra caralho!
A Wall fez o vídeo desses dias. Ela mandou muito bem. Ela esteve do nosso lado fazendo junto conosco todos os dias. Eu acho que suas fotos mostram isso.


Nessa Vila eu estive presente em cada momento, saboreei cada coisa que aconteceu, e me ajudou a entender melhor como é pra mim essa coisa de aproveitar o aqui e agora.
Pensamos a vila toda em cima do tema prático: experimento de tudo gostosamente.
Jogamos o jogo do bambu e pensamos em como nos posicionarmos no ponto zero.
Zap, zum e boing pensando nas dinâmicas de comunicação.
No jogo das três situações pensamos sobre fato e pensamento.
E fizemos kensan sobre que pessoa, que ser humano queremos de ser. E que mundo queremos construir.
Eu e a sociedade.
Em poucas palavras pra mim fica a imagem do cavaleiro na carroça.
Se você quer que a carroça ande onde chicoteamos? No cavalo ou na carroça?
Se divagarmos onde devemos chicotear, estamos fora da prática e ficamos parados.
Para mim essa coisa: “eu e sociedade” é como essa carroça.
Não há separação entre uma coisa e outra, nem há “dentro e fora”.
Hoje eu sinto que sou tanto o cavaleiro como o cavalo e a sociedade é a carroça. E somos uma coisa só onde quer que eu esteja e independente de como eu veja. Eu a puxo ao mesmo tempo em que ela me carrega.
Ao chicotear o cavalo estou chicoteando a mim mesmo, isso é tudo que posso realmente fazer na prática. A outra opção é ficar puto pela carroça não ser do jeito que eu queria que ela fosse e ficar chicoteando-a esperando que ela se mova.
Onde chicoteamos?
 Pensei sobre isso durante nossas reuniões com a galera e também na reunião com pais.
Pensando nesses dias sobre o tema de “experimentar de tudo gostosamente” foi também muito importante. Parece-me que manter essa atitude de experimentar durante o ato de fazer algo ajuda a encontrar o “gostosamente” que está lá. Isso é diferente de colocar deliberadamente alguma distração pra tornar a atividade mais prazerosa e menos chata. Ou de forçar encontrar alguma razão maior naquilo, espremendo ao máximo para tirar algum proveito.
É simplesmente apreciar cada momento como ele é.
Nesses cinco dias eu pude saborear calmamente cada acontecimento. Não foi difícil fazer isso, pois cuidar dessa vila não teve nenhum esforço, nenhuma obrigação. Apesar de estar agora completamente exausto e ainda assim querendo escrever essas impressões.
É fácil, pois me sinto em casa lá no salão, estou junto dos meus melhores amigos e fazendo umas das coisas que mais gosto de fazer na minha vida.
E eu faço com amor. Eu amo quando encontro a galera de manhã, eu amo subir andando até a avicultura ou a horta. Eu amo ensacar esterco e colher ovos, ou colher cenouras, amo sentar em roda e ouvir cada pessoa, pensar junto com elas. Amo como nesse processo eles me ajudam a me enxergar melhor. Amo, pois através desse processo fico mais pertinho de mim mesmo neste momento presente. Então posso apreciar cada momento como ele é. Posso apreciar a vida enquanto ela acontece e estar feliz pelo simples fato de estar aqui.
É engraçado como sempre acabo voltando para esse ponto.
Mas é que agora, lembrando as coisas que fizemos, eu sinto amor.
Todas as vilas foram incríveis pra mim, cada uma com suas particularidades e com diferentes pessoas. Mas olhando pra mim agora, percebi que nas últimas vilas eu acabava sempre chorando no ultimo dia, depois que a vila acabava. Quando nós “monitores” sentávamos pra falar como tinha sido etc...eu chorava pois falando como tinha sido me emocionava. Dessa vez eu chorei durante a Vila, em vários pequenos momentos. Por exemplo, no dia em que fomos colher cenouras e estávamos voltando da horta eu olhava a galera lá na frente do caminho andando de volta pro salão, ou enquanto a galera entrava na cozinha e eu ouvia o movimento deles, também quando eu ouvia cada um dizer o que pensa, ouvindo as risadas do Lê e do Jota na “bate-caverna” enquanto a Inês fazia massagem na minha cabeça, por causa de uma dor.
Não era nenhum choro flagrante, eram pequenas lágrimas que molhavam meus olhos no momento em que eu parava e pensava “isso que está acontecendo agora é bom demais”, “que bom estar aqui”, “que bom estar aqui com eles”.
É bom poder aproveitar com consciência esses momentos enquanto eles acontecem. Agora não fico lembrando tudo isso pensando: “ nossa!! Fizemos tantas coisas legais, eu devia ter aproveitado mais...”
Eu to bem tranqüilo pois aproveitei do jeito que consegui aproveitar.
Gostaria de morrer com esse sentimento em relação a minha vida.
Tudo justo.
Foi do caralho.
E essa turma é foda!
Amo eles demais.

Agora deixo uns lembretes pra mim mesmo para a próxima Vila.

Olhar pra mim primeiro.
Começar do ponto zero.
Fazer na prática todos os temas.
Ao conduzir uma reunião, não ficar cercando eles para que eles falem o que eu espero deles. Mas ter o tema claro e trazer a atenção para o tema quando o pensamento de alguém se desviar muito.
Lembrar que as minhas crenças, opiniões, etc...são particularidades minhas. Não tem nada a ver com o processo de cada um.
Contribuir para um ambiente de liberdade e de confiança, onde todos possam falar como quiserem, sem se preocupar com palavras, formas de expressar, ou julgamento.
Eu não julgo em primeiro lugar.
Procurar ouvir, só ouvir e ouvir devagar.
Zelar por mim também, pedir ajuda e confiar em todos os zeladores.
Fazer por livre e espontânea vontade, sem esperar por resultados, seja a curto ou a longo prazo.
Não me preocupar em deixar rastros. Citando o Jota:
‎"Pra tocar no coração das pessoas é só prestar atenção aonde está o seu. E o resto é só deixar pra depois."
Vivenciar e construir no presente da vila, o mundo que gostaria de viver cada dia da minha vida.
E por último não esquentar a cabeça com esses lembretes.
Foram esses pontos que surgiram para mim durante essa vila.
Até a próxima.


segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Meu sonho


Agora reúno toda minha sensatez para me colocar insensato.
E me muno de toda sabedoria para me soltar criança.
Para brincar por toda minha vida.
Ser fiel a mim mesmo.
Ser feliz agora mesmo.
Ser sincero.
Este é meu sonho.
Ele é puro e obsceno.
É uma bagunça e é claro.
É o que eu quero fazer com este tempo.
É o que quero fazer neste espaço.
Este sonho não é só pra mim, ele não é só meu.
Ele não tá lá!
Tá bem aqui!
Não estou escondendo nada.
Você consegue ver isso?
Estou andando seguro e às cegas.
Veja! Eu tô pelado como um peixe aberto em sua mesa.
Seremos capazes de ver através destes rótulos?
Vestido somente com meu próprio sonho me apresento ingênuo.
E nunca antes tão corajoso.
Onde está a realidade?
Onde está o medo?
Quem está dizendo onde o pé deve estar?
Quem é que sente o solo empurrar o seu peso de volta? Os músculos da panturrilha esquentarem? Esparramando os dedos e abrindo os metatarsos?
Nem meu melhor amigo.
Nem minha mãe.
Nem pai.
Nem santo.
Nem namorada.
Quem sente o chão
É o meu
Pé.