segunda-feira, 4 de junho de 2012

De quem é esse pensamento?



Ao ver o mundo do espaço não é possível ver as fronteiras, não se vê onde começa um país e termina outro. Daqui de baixo encontramos placas nas estradas dizendo onde é a divisa entre uma cidade e outra, nesta placa acaba Valinhos e começa Campinas, naquela outra deixamos para trás o estado de São Paulo e somos recebidos com boas vindas pelo estado do Rio de Janeiro. Nos aeroportos existem as alfândegas, onde somos interrogados. Querem saber quanto dinheiro temos, de onde estamos vindo, qual a finalidade da viagem, quanto tempo vamos ficar, onde vamos hospedar e quem irá nos receber. E podem negar nossa entrada.

“O primeiro que tendo cercado um terreno se lembrou de dizer:"Isto é meu", e encontrou pessoas bastante simples para o acreditar, foi o verdadeiro fundador da sociedade civil. Quantos crimes, guerras, assassínios, misérias e horrores não teria poupado ao gênero humano aquele que, arrancando as estacas ou tapando os buracos, tivesse gritado aos seus semelhantes: "Livrai-vos de escutar esse impostor; estareis perdido se esquecerdes que os frutos são de todos, e a terra de ninguém"





Será que a nossa mania da posse não está ligada à mania de colocar divisões nas coisas?

Por exemplo, se comermos uma maçã, em que momento exato ela começa a fazer parte da gente? Na boca? Quando o processo de digestão se inicia? Mas espera! Podemos começar a salivar antes de mordê-la, apenas com a imagem da maçã, ou com a idéia de maçã. Mas ela não está dentro de nós! Opa! Mas está na nossa imaginação e já está fazendo efeito em nosso organismo, afinal nossa imaginação também faz parte de nós! Mas a maçã em si, concretamente, não está dentro de nós! Então será que é mais pra frente?E se cuspirmos o bolo alimentar antes de engolirmos a maçã? Então temos que engolir? No estomago então? Mas e se vomitarmos? Então será nos intestinos, quando as propriedades da maça são absorvidas pelo corpo? Será então nas células? Algum cientista pode nos ajudar?
E quando a maça deixa de fazer parte de nós? (...)

Quem é que está decidindo? Quem está colocando as fronteiras das coisas? Debateremos até que aja consenso? O consenso será a verdade? Para algumas pessoas faz mais sentido ser nos intestinos, para outras a intenção de comer a maça já as satisfazem como sendo o momento em que a maça faz parte de nós. Algumas pessoas podem dizer que a maça e nós não são duas coisas diferentes, podem argumentar que a nível atômico fica difícil ver a separação, a nível molecular talvez exista, mas então é uma questão de que ponto de vista escolhemos? Mas independente do ponto de vista, como será mesmo?

Pessoalmente o que mais me interessa dessa pesquisa toda, é ver como eu funciono, e dos pontos que dentro desse funcionamento me sinto próximo a todos os humanos. 
Pensar nisso tudo me mostra como os conceitos humanos são frágeis e do quanto eu tomo eles como algo sólido. E fico me perguntando em quantas situações não estarei tomando minha forma de ver o mundo como a realidade em si. Quantas vezes eu coloco divisão nas coisas, quantas vezes coloco algo como propriedade minha. Isso tudo é natural, eu faço isso todos os dias, vejo muita gente fazendo. Não acho errado achar que as coisas são nossas, ou mesmo didaticamente, fazer divisão nas coisas.
"Vamos combinar que daqui até aqui é mão. Depois começa o braço!" 
Mas acho que confundir o que foi combinado como algo que é inerente a natureza, gera muitos conflitos. Vejo isso ao meu redor todos os dias, nas relações internacionais, na política mundial, na política nacional, na política dentro das universidades, na escola, dentro da sala de aula, na cabeça dos alunos, na minha vizinhança, dentro da minha casa, nos meus relacionamentos e comigo mesmo. 

Nós não tomamos como nosso, somente as nossas coisas, mas também as pessoas.
"Estes são meus amigos, esta é minha namorada, esta é minha mãe, meu pai, minha família."          
Tomamos como nosso também a função que queremos desempenhar na vida.
"Esta é minha carreira, minha profissão, meus estudos, minha pesquisa, meu sonho, minha vontade, minha felicidade. "
Tomamos como nosso até os pensamentos que passam na nossa cabeça.
"Quem pensa isso sou eu, é assim que eu penso, se alguém quiser fazer uma citação sobre isto, por favor, me dê os créditos!" 
Nossa! Deixa-me dar os devidos créditos (como se faz nas teses). 
A primeira citação foi de Jean-Jacques Rousseau. Ao resto fica meio difícil dar os créditos, a coisa de não podermos ver as fronteiras dos países do espaço já ouvi isso muitas vezes de muitas pessoas, o Dalai Lama dá este exemplo no livro: A open heart. O Romeu costuma usar este exemplo no tokkou. De onde ele tirou isso não sei. A propósito foi do tokkou que tirei este tema. A coisa da maçã vem de um punhado de pessoas com as quais já sentei pra conversar sobre isto.

Eu mesmo não saberia dizer exatamente de onde vem cada coisa que influencia meu modo de pensar, nem a extensão de como elas determinam o próprio funcionamento de minha mente. Pelo menos já começo a perceber que isto ocorre e fico mais atento vendo isto acontecendo atualmente. Ter olhado pra trás me ajuda muito, foi o meu Naikan. 
Sou formado pelos encontros. Deste com a minha mãe a todas as pessoas que passaram pela minha vida. Cada uma fazendo sua marca de um jeito, determinando meu jeito de ser e meu modo de experiênciar a vida. Olha só fiz de novo, “meu” modo de experiênciar a vida.

Este pensamento, de quem é?

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