Não existe descoberta se a rota já é fixada. Pode-se
aprender a içar e a abaixar velas, a lutar contra as correntes, a usar os
ventos contrários. Durante esses dias, falamos do aspecto artesanal do
trabalho, o primeiro e o segundo nível de organização. Mas o terceiro nível, o
da totalidade, das polaridades que coexistem, o da ação no contexto, o momento
no qual o nosso temperamento e a nossa biografia nos guiam a constituir e a
atravessar um labirinto, a entrelaçar os fios, a apertar o nó final, é o
resultado de uma injustiça existencial. Alguns a alcançaram, outros não.
É possível atingir uma nova praia navegando sem uma rota
claramente definida. Conhecemos apenas as técnicas para navegar. Não sabemos se
atingiremos o continente sonhado. A consciência de nossos limites nos
atormenta: talvez, dessa vez, não chegaremos. O fio de Ariadne é o trabalho
cotidiano, a concentração sobre a aparente simplicidade de cada ação artesanal
que nos guia na névoa que nos desorienta. Com a precisão essencial da ação que
poderá ser a última.
Obviamente nenhum de nós deseja sofrer, expor-se à
insegurança ou viver em estado de crise. Mas uma nova orientação só é possível como conseqüência de uma desorientação. Na nossa vida, uma crise pode ser uma pausa-transição, na qual a nossa experiência se prepara para saltar numa nova órbita, que revitaliza as nossas energias.
Estar desorientado significa que as soluções e respostas que
possuíamos antes já não nos satisfazem. É o nascimento de algo novo, “nove
meses” de gestação, com náuseas, o vomito, a sensação de que o corpo físico e
psíquico está se deformando. Nesse periodo de desorientação, toda nossa
experiência anterior trabalha para buscar um novo modo de manifestar-se,
abandonando a casca segura dos hábitos que agora nos atrapalham.