Durante a gincana dessa vila fiquei no topo da caixa d´água do salão.
Fui a veia surda! “Heim”??
Fui a veia surda! “Heim”??
Demorou muito para os primeiros grupos virem. Lá de cima
pude ver todas as crianças correndo de uma brincadeira a outra...vi as crianças
tentando pegar o totó, ouvi as crianças tentando fazer o Buda rir...
Enquanto esperava fiquei pensando: O que a gente tá fazendo aqui? Então veio uma
sensação de estar em suspensão, e mesmo que pra mim, o vazio faça mais sentido que a
existência, lá estava eu e todas essas coisas existindo. Nesse momento olhei
para baixo e vi o Axell correndo das crianças, a Clarinha fazendo a centopeia,
o Dani, o Well, o Leo. Tinha o céu, tinha a terra e tinha eu, tinha um monte de
gente, tinha muitos amigos meus.
“Faz sentido”.
Houve muito esforço sim, fiquei cansado sim, coloquei toda
minha energia sim. Quanto mais detalhes procurei enxergar, detalhes infinitos
surgiram. Será que sou capaz de manter a
essência da vila viva? Será que consigo vê-la? Então me pareceu que a
questão não era ver a essência e deixa-la viva, mas mesmo sem saber ao certo
qual é a essência, cuidar para que eu mesmo não a impedisse de estar presente.
Afinal eu sou só um, a vila é um monte de gente. Gente
fazendo existir o ambiente.
Foi incrível! Essa Vila foi um golaço! Foi redonda! Foi
quentinha apesar do frio!Foi muito engraçada, divertida e também muito rica!
Nos diários quase todos colocaram que não queriam que a vila
terminasse.
Eu também.
A Débora, de oito anos, no último dia ficou parada na frente
de todos os cômodos do salão só olhando. Olhou o banheiro por um tempo, olhou
os quartos por um tempo e quando a Tati perguntou o que ela tava fazendo ela
disse: “estou guardando pra não esquecer”.
Eu também não quero esquecer.
A Mari de 12 anos se despediu com os olhos cheios de água.
Eu também.
Quando a vila terminou o Jota, a Tati, a Claudia, a Carla, o Fábio, o Well, quiseram ficar um pouco mais
e dormir mais uma noite.
Nós ficamos.
24 horas depois eu tive a primeira refeição sozinho. Sem
soquinhos na cara, sem mordidas, sem siriemas capazes de fazer o Chuck Norris
chorar como uma menininha.
Somente silêncio.
Comi e voltei para o salão, pra terminar de limpar tudo, pra
fazer até o fim.
Pela primeira vez completamente só. Lembrei-me da manhã em que espalhamos esterco
na horta e suados olhamos por um momento para o que tínhamos acabado de fazer.
Somente contemplamos um pouco.
Não durou muito, logo desceu a Inês, desceu o Felix, o Leo
depois o Axell.
Não fiquei sozinho antes, e vi que não ficarei.
Que bom saber!
Que bom saber que todos nós gostamos dessa Vila.
Que bom!
Juntos nós demos um pulo que durou uma semana, cheguei ao
chão plainando.
Que bom!
E agora estou com a sensação de que voltei pra vida sentindo
saudades de casa. Um gostinho no coração de que essa casa é o paraíso.
Feliz de saber que essa casa é possível existir nessa vida.
O paraíso são os outros.